domingo, 22 de janeiro de 2012

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA

Evitando   seguir  a tendência da psiquiatria  biológica  em   dosar o  humor, afirmamos que  é  preciso  escutar   o  paciente,  captar   o que  se passa   na   vivência  de si e  do  mundo. O humor  baixo, à medida em que espalha o   seu  efeito  nocivo, efeito  anti-vida, muda  a  configuração clínica. Associa-se à ansiedade, às  alterações  do nível da consciência e  até   aos  sintomas psicóticos  - delírios  e alucinações.  Este  dado  é  importante na  formulação  de uma  hipótese diagnóstica   que   se  ache   ancorada na entrevista. Aí  os  signos  são  emitidos e é  onde  o psiquiatra se  arrisca a pensar a  diferença  e  os  detalhes que  escapam ao  molde pessoal ou nos  casos em que o  paciente  já  chega  com  um diagnóstico. Óbvio, é  difícil  ignorar  os   efeitos  do diagnóstico  pronto   sobre  a  produção de  signos do  quadro  psicopatológico. O  caso do  humor  é  emblemático pois coincide com   um  momento histórico   de  grande  morbidade dessa  patologia. A palavra  “depressão”  é  usada largamente,  tanto pelo discurso especializado quanto  pelo leigo. No  primeiro  caso, as diferenças entre  uma síndrome  (ou  transtorno)   depressivo   e um sintoma  depressivo são ignoradas.  As conseqüências  sobre o tratamento medicamentoso   costumam  ser    desastrosas.  No  segundo  caso,  o termo  “depressão” é  usado para  nomear  qualquer  situação que  implique  problemas  mentais,  o que  se  observa  no senso comum  e   na  anamnese (...)



Antonio Moura


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