domingo, 29 de janeiro de 2012

Ética

Todas  as  éticas partem  do eu. São  ridículas. A psiquiatria parte  do eu. Seria melhor se  ela, ao contrário,   partisse o eu em  mil conexões, subjetividades.  Você  acredita?  Os  pacientes não acreditam,  creditam à  psiquiatria um ganho  sobre  si  mesma, um empreendimento.  Procuram um psiquiatra remedeiro que resolva. O molde  está  pronto para  quem quiser. Ser-médico? Ser-paciente?  Ou o inverso. O mundo roda. A ética desceu das  alturas para  o fino contato terrestre. Nada  pronto. Qual a  ética da  psiquiatria? A  regra  acadêmica, recheada  de  boas  intenções, diz: vocês têm  que  ser  felizes, principalmente  às  custas do remédio químico,  pois, afinal,  a mente  é  pura  bioquímica, ninguém duvida. Contudo,   não  há    diálogo  frente  às  destruições  concertadas  da  subjetividade. Esta  é  uma  fala  de loucos forclusivos  ou  apenas  delirantes. O universo psi   serve  tão somente para  barrar e  borrar  o desejo   em suas  expressões   imperceptíveis. Pouco mais  a dizer aqui  senão o escape micro-político.  A psiquiatria é  o delírio  crônico. “Eus”  à  postos, salvaguardas da  razão, argumento indefensável a favor do sistema.   No entanto, alguma coisa  vaza (...)

Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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