Ética
Todas as éticas partem do eu. São ridículas. A psiquiatria parte do eu. Seria melhor se ela, ao contrário, partisse o eu em mil conexões, subjetividades. Você acredita? Os pacientes não acreditam, creditam à psiquiatria um ganho sobre si mesma, um empreendimento. Procuram um psiquiatra remedeiro que resolva. O molde está pronto para quem quiser. Ser-médico? Ser-paciente? Ou o inverso. O mundo roda. A ética desceu das alturas para o fino contato terrestre. Nada pronto. Qual a ética da psiquiatria? A regra acadêmica, recheada de boas intenções, diz: vocês têm que ser felizes, principalmente às custas do remédio químico, pois, afinal, a mente é pura bioquímica, ninguém duvida. Contudo, não há diálogo frente às destruições concertadas da subjetividade. Esta é uma fala de loucos forclusivos ou apenas delirantes. O universo psi serve tão somente para barrar e borrar o desejo em suas expressões imperceptíveis. Pouco mais a dizer aqui senão o escape micro-político. A psiquiatria é o delírio crônico. “Eus” à postos, salvaguardas da razão, argumento indefensável a favor do sistema. No entanto, alguma coisa vaza (...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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