segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O PACIENTE NÃO COLABORA COM QUEM, Ó CARA PÁLIDA?

No exame do paciente, a  psiquiatria cidológica-biológica chama de sintomas positivos aqueles sintomas  expressos claramente. Ex.: diz o paciente: "eu sou o apocalipse". Por outro lado,  sintomas negativos  são os que não são expressos. O paciente se mostra negativista, mudo, olhar vago, não coopera, enfim.  Ora,  tal raciocínio é uma das vergonhas da semiologia clínica em psicopatologia. Primeiro, porque não existe o não expresso. A  não expressão é uma expressão, assim como não existe o não afeto. O não afeto é um afeto. Segundo, porque a linguagem não é apenas verbal, podendo ser não-verbal, corporal, dramática, enfim, a-significante. Terceiro, porque baseada na não cooperação do paciente ("ele não se comunica") a psiquiatria justifica o uso indiscriminado  de psicofármacos, baseando-se em nada. Ou seja, não tem diagnóstico, mas o paciente tem que falar, tem que falar! Quarto, porque os modos de subjetivação não obedecem a uma lógica da consciência ou da racionalidade. Sendo assim, eles podem passar ao largo do olhar psiquiátrico. Quinto, porque o exame do paciente tende a  ser um  fracasso da percepção médica em termos da sua realidade  "interna", já que ele se apresenta como máquina que não funciona, mecanismo inerte, travado, quando sabemos que tudo está funcionando, talvez não do modo como a psiquiatria gostaria. Sexto, curiosamente, mas sem  neuro-explicação, os fármacos são  mais "eficientes" nos casos de sintomas positivos...

Antonio Moura

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