domingo, 1 de janeiro de 2012

PODERES

O poder  como  fundo  opaco,  a  aura da  felicidade  humanista de  servir  ao próximo, o culto à ciência como artigo de fé, o respeito  contrito  à  academia, que mais  será  a ciência  do  cérebro? Deus  meu, livrai-nos de todo  o mal não explicável por  conexões  cerebrais. Contudo, isso é  fácil de provar: não pense. Falemos  de outra  coisa: a traição.A política não é bem vista pelos  cientistas. Eles  a desprezam  em favor de uma pureza  de princípios  e  métodos .  Todos pelo  progresso. Um, dois,  três, sigamos a  população  serial  de  neurônios aflitos.  A questão da psiquiatria, hoje,   é  a    produção de   um   pensamento único  e  do  acriticismo.  A ciência  do cérebro apóia isso,  mas  ela  não é   a  psiquiatria.  Um agenciamento neuro-psiquiatria   é   uma  máquina de produzir  mentes.  A  busca da  causa   das  doenças  (quais?)  torna-se  produção de causas,  portanto, de uma razão  médica [1].  O sistema  límbico, reduto  dos  afetos, molda e é  moldado pelo que  está  fora. Não é possível ver a mente. Ela  compreende  relações e  fluxos que  precedem  coisas e  substâncias. Não existe  O poder. Existem forças dispersas querendo se  afirmar.  Oh  Nietzsche.


[1] “O médico, que não quer se assemelhar a um charlatão, vive com mal-estar a dimensão taumatúrgica  de sua atividade. O paciente, acusado de irracionalidade, intimado a se curar pelas “boas” razões, hesita. Onde, nesse emaranhado de problemas, de interesses, de constrangimentos,  de temores, de imagens, está  a “objetividade”? O argumento “em nome da ciência” se encontra  por  toda parte, mas não pára de mudar  de sentido”, Stengers, I., A invenção das ciências modernas,S. Paulo, Ed.34, 2002, p.35.

Nenhum comentário:

Postar um comentário