quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


DO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (trecho - capítulo primeiro)

Um edifício cinzento e atarracado, de apenas trinta e quatro andares, tendo por cima da entrada 
principal as palavras: 

CENTRO DE INCUBAÇÃO E DE CONDICIONAMENTO DE LONDRES-CENTRAL 
e, num escudo, a divisa do Estado Mundial: 

COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE 

A enorme sala do andar térreo estava virada ao norte. Apesar do Verão que reinava no exterior, apesar do calor tropical da própria sala, apenas fracos raios de uma luz crua e fria entravam pelas janelas. As batas dos trabalhadores eram brancas, e as suas  mãos, enluvadas em borracha pálida, de aspecto cadavérico. A luz era gelada, morta, espectral, Apenas dos cilindros amarelos dos microscópios ela recebia um pouco de substância rica e viva, que se espalhava ao longo dos tubos como manteiga. 
- Isto - disse o Director, abrindo a porta - é a Sala da Fecundação. 
No momento em que o Director da Incubação  e do Condicionamento entrou na sala, trezentos fecundadores, curvados sobre os seus instrumentos, estavam mergulhados naquele silêncio em que apenas se ousa respirar, naquela cantilena ou assobio inconsciente com que se traduz a mais profunda concentração. Um grupo de estudantes recém-chegados, muito novos, rosados e imberbes, comprimiam-se, possuídos de uma certa apreensão e talvez de alguma humildade, atrás do Director. 
Cada um deles levava um caderno de notas, no qual, cada vez que o grande homem falava, rabiscavam desesperadamente. Bebiam a sua sabedoria na própria fonte, o que era um raro privilégio. O D. I. C. de Londres-Central empenhava-se sempre em conduzir pessoalmente a visita dos novos alunos aos diversos serviços.
(...)
Aldous Huxley

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