domingo, 10 de março de 2013


Salomé

Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo, 
Luz morta de luar, mais Alma do que lua... 
Ela dança, ela range. A carne, alcool de nus, 
Alastra-se para mim num espasmo de segredo... 
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas... 
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou... 
Tenho frio... Alabastro! A minha Alma parou... 
E o seu corpo resvala a projectar estátuas... 
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me, 
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto... 
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me: 
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto... 
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me 
Na boca imperial que humanizou um Santo...

Mario de Sá-Carneiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário