domingo, 7 de junho de 2015

PROVÉRBIOS DO INFERNO


No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. 
Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos. 
A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. 
A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência. 
Quem deseja, mas não age, gera a pestilência. 
O verme partido perdoa ao arado. 
Mergulha no rio quem gosta de água. 
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio. 
Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela. 
A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo. 
A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. 
As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.
Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes. 
Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez. 
Nenhum pássaro se eleva muito, se eleva com as próprias asas. 
Um cadáver não vinga as injúrias. 
O ato mais sublime é colocar outro diante de ti. 
Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando Sábio. 
A loucura é o manto da velhacaria. 
O manto do orgulho é a vergonha. 
As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião. 
O orgulho do pavão é a glória de Deus. 
A luxúria do bode é a glória de Deus. A fúria do leão é a sabedoria de Deus. A nudez da mulher é a obra de Deus. 
O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora. 
A raposa condena a armadilha, não a si própria. 
Os júbilos fecundam. As tristezas geram. 
Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha. 
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade. 
O sorridente tolo egoísta e melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que ejam flagelos. 
O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado. 
A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos. 
A cisterna contém; a fonte derrama. 
Um só pensamento preenche a imensidão. 
Dizei sempre o que pensa, e o homem torpe te evitará. 
Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade. A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha. 
A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão. 
De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme. 
Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece. 
Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações. 
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução. 
Da água estagnada espera veneno. 
Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente. 
Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano! 
Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra. 
O fraco na coragem é forte na esperteza. 
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa. Ao receber, o solo grato produz abundante colheita. 
Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser. 
A essência do doce prazer jamais pode ser maculada. 
Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade. Levanta a cabeça! 
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas. 
Criar uma florzinha é o labor de séculos. 
A maldição aperta. A benção afrouxa. 
O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova. 
Orações não aram! Louvores não colhem! Júbilos não riem! Tristezas não choram! 
A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés, a Proporção. 
Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível. 
A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco. 
A Exuberância é a Beleza. 
Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso. 
O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade. 
Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos. 
Onde o homem não está a natureza é estéril. 
A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada. 
É suficiente! Ou Basta.

William Blake


Nenhum comentário:

Postar um comentário