O PODER PELO PODER
UOL - O senhor, quando ainda era do PT (1990-2005), foi tirado do cargo de ministro da Educação no começo do segundo ano de gestão de Lula. O aviso foi feito por telefone, durante sua viagem de férias por Portugal. A justificativa, nos bastidores, era de que o então presidente não queria mais acadêmicos e suas ideias, mas gente que apresentasse resultado em seus ministérios. Por isso, Lula pegaria uma "turma boa da Câmara". Pesou também o fato de o senhor ter feito críticas à gestão de Lula. O que essa situação mostrou ao senhor sobre o que seria, a partir daquele instante, a administração petista na presidência?
Cristovam Buarque - Creio que houve uma inflexão em meados do primeiro ano do governo. O ministério do Lula perdeu o vigor transformador. Lula perdeu isso. Lula, a partir de um certo momento, perdeu o vigor de transformar a sociedade. Transformar a sociedade na direção de escola de qualidade para todos, na busca de uma indústria baseada em alta tecnologia. E daí perdeu a perspectiva do vigor transformador e de fazer uma política sem corrupção. E aí optou, pelo que a Dilma também optou, que é o poder pelo poder. Então, em vez de querer compor uma base política de parlamentares que ajude a fazer as reformar, quis compor uma base a ficarmos no poder. Você vê a diferença? E o Lula resolveu optar por como ficar no poder. Percebi isso quando ele não ia dar apoio para reformas na educação, que o que ele queria mesmo era facilitar a entrada de pessoas na universidade. Isso não transforma. Isso é bom, mas não transforma. O que transforma é colocar o filho do pobre em uma escola tão boa quanto a do filho do rico.
(...)
Nathan Lopes, UOL, de São Paulo, 05/04/2016, 06:00 hs
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