sábado, 1 de julho de 2017

O DELÍRIO - 1

O delírio é um tema "visceral" em psicopatologia clínica. Há dois elementos, entre outros, que o fazem tão importante. Em primeiro lugar, por tocar a questão da verdade. Isso leva à pergunta: "o que o paciente diz remete a uma verdade?" Em segundo, porque tal discurso (se delirante) conduz a situações de maior ou menor constrangimento social, já que o dizer remete a um fazer. O delirante tende a incomodarEntão, a verdade do paciente nem sempre é a verdade do que está em torno, o que não é mais do que a sociedade com seus equipamentos de avaliação moral, violência, disciplina e controle. Sim, é um tema que extrapola os limites da clínica exatamente por dizer UMA verdade que não é A verdade, bem entendido, a verdade das instituições sociais. No miolo de tal paradoxo, a multiplicidade dos discursos (amoroso, político, religioso, filosófico, científico, midiático, poético, etc) se espraia em configurações subjetivas com implicações diretamente práticas. É aí no âmbito mesmo da psiquiatria clínica, em situações-limite de urgência/emergência, que a questão de delírio se põe e se expõe no cara a cara do real-concreto:"o que fazer?" Em suma, falar sobre o delírio permite "delirar" as multiplicidades do mundo, mas há uma hora em que é inadiável uma escolha ética como condição para a intervenção técnica. 


A.M.

Um comentário:

  1. ... mas há uma hora em que é inadiável uma escolha ética como condição para a intervenção técnica. A.M.

    Ñ sei bem como porque, mas, sempre temo sofrer uma intervenção técnica..., de todo tipo elas sempre me afetam em menor ou em maior grau...

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