domingo, 10 de dezembro de 2017

O QUE É PENSAR

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É preciso não confundir pensamento com conhecimento. Este corresponde ao acúmulo de informações que a memória propicia, e vai  servir de reservatório de conceitos estáticos à espera de que sejam acionados quando do trabalho intelectual. A atividade cognitiva ganha a sua pertinência e o seu valor na medida em que está conectada às linhas institucionais que sustentam o funcionamento da organização escolar e dos seus dispositivos.  Deste modo, o “ser” inteligente não existe enquanto essência, ou substância, mas nem por isso deixa de ser palpável e intrínseco ao sucesso profissional, por exemplo. Tudo isso substitui o pensamento e ao mesmo tempo faz-se passar por ele, numa operação urdida na produção de subjetividades individualizadas no papel de aluno, no papel de professor. Pensar, pois, não é para qualquer um. Não que este um esteja acima dos  mortais, mas porque esse um está à margem, sempre à margem das formas subjetivas, fazendo-se e refazendo-se como produção. Isso dá trabalho. Sim, porque o ato de pensar implica num movimento de subjetivação sobre si,  espécie de dobra e redobra do eu a partir e com os signos que  chegam. Falamos, pois,  sobre o pensamento como ato e como física.Uma abstração concretizada, velocidades  infinitas freadas na organização de saberes inseridos em práticas. É o contrário do pensamento regido pela forma-Academia, ou pela forma-Estado, quando e onde estas acabam por se aliar na ação de bombardear cidades e aldeias. A chamada relação pedagógica, ou o próprio ensino, é um lugar por excelência onde se propagam estas formas como verdades dadas. Não há, pois, uma natureza do pensamento que não esteja funcionando em algum dispositivo, em alguma prática, e portanto, não há pensamento que não se agencie como desejo de fazer, de viver, de sobreviver, mesmo que se destrua, se mate e se explore.O desejo é a superfície onde algo acontece, mesmo não acontecendo. Este é o processo.
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A.M. , extraído do texto Devir-aluno

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