QUEM ELE PENSA QUE É?
(...)Trabalhar com pacientes num Caps, por exemplo, implica em sair dos moldes da Conserva do hospício, dos ambulatórios, dos consultórios clínicos, estes, por sua vez, marcados pela forma-hospício. Explorar as linhas de multiplicidade, mesmo e principalmente no paciente identificado ao portador de transtorno mental. Há outras linhas não percebidas, talvez invisíveis. Pacientes registrados, cadastrados, codificados, rotulados sob o efeito de formas sociais (instituições) como a família, a clínica, a escola, o trabalho, o direito, o estado, a polícia, o casamento, entre outras, estão enfiados em buracos negros onde o devir-pensamento foi relegado a uma atividade cognitiva mínima, rasteira, como registram os manuais psiquiátricos. Curso, forma, conteúdo, raciocínio, juízo, são categorias semiológicas usadas num exercício de mortificação do devir-pensamento. Elas compõem o mundo da representação. Tornar o pensamento visível e frear a sua velocidade infinita, isso é assunto dos psiquiatras biológicos e adquire na psiquiatria atual o requinte das tecnologias de ponta. Subjacente à técnica, existe a crença de que o paciente não pensa, ou se pensa, é para responder qual o seu nome, que dia é hoje, onde estamos, que veio fazer aqui, etc. Insistimos no dado de que o pensamento não é só o que é falado, mas o que é experimentado via sensações, intensidades, afetos, o que muitas vezes não pode ser dito, não chega a ser dito, não consegue ser dito. Mas existe.
(...)
A.M.
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