segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O trabalho da clínica 

Estar com o paciente é entrar  em contato  com os  fluxos  caóticos da  subjetividade. Podemos  chamá-los de loucura no intuito de borrar os limites  entre o patológico e o não patológico. Por que  isso  é necessário?  É que sob  a  ótica  da  “diferença”, os   conceitos se  interpenetram neste sentido -  “loucura – subjetividade - transtorno mental” e não  “transtorno mental – subjetividade – loucura” como reza a concepção biomédica. Colocar a loucura  como  primado da condição psicopatológica  implica numa  atitude de aceitação incondicional do paciente como  subjetividade que vem de fora, do mundo, do cosmos, do universo. A loucura é o nosso operador conceitual  na medida  em que  não se  detém em limites  fixados  pela  ideia de  razão. A psicopatologia prescinde  da  razão como  princípio  norteador, usando-a tão só como linha molar, endurecida. A razão não é, pois, um mal  em si. Ela é sintetizada  na produção desejante como  um  elemento  a mais. Trata-se de  um agenciamento  de  desejo. O trabalho da clínica é complexo porque se relaciona com a não-clínica, daí  com a  crítica. A subjetividade do paciente está ligada diretamente à subjetividade dos que estão à  sua volta. É neste  sentido que a clínica  é um sistema aberto inserida em processos institucionais que a atravessam  todo o tempo. Assim, os processos subjetivos  são  fragmentários e fragmentados,  conectando-se com as linhas de um universo virtual. Isso não depende da orientação teórica adotada, mas de critérios ético-políticos inscritos na natureza do Encontro.Uma subjetividade a-subjetiva significa antes de tudo que  ela não está  fechada sobre si,  ainda que em expressões patológicas extremas, como na catatonia, no autismo, etc. A-subjetivo implica em se ver o portador de transtorno mental como “portando” um mundo, este sim, um Encontro irrecusável gerador de estados de potência ou impotência.
(...)

A.M.

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