segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

RELIGIÃO E POBREZA

P. Por que a religião evangélica cresceu tanto, especialmente entre os mais pobres?

R. Temos um país com uma desigualdade econômica imensa e pouquíssima presença do Estado nas periferias urbanas, onde os serviços públicos são extremamente deficitários. Especialmente na questão de saúde e de assistência social. É uma população extremamente carente de bens materiais e equipamentos urbanos e não tem para onde recorrer em caso de dificuldades. Você vê no Rio de Janeiro, por exemplo, que é uma cidade extremamente violenta: no momento de um tiroteio o que está aberto para a população é a porta das igrejas pentecostais. Eles oferecem um espaço público, de acolhimento, que vai, de uma certa maneira, preencher um vazio deixado pelo Estado. A igreja católica quando muito tem uma porta na sacristia aberta. As portas abertas são as da Universal, da Assembleia de Deus. É nesses lugares que a população carente encontra alguma acolhida e alguma possibilidade de construir uma rede social. Essas igrejas atraem principalmente mulheres, que estão ou na frente de chefia de família, ou que têm casos de banditismo ou alcoolismo dentro da família. Não têm espaço onde possam falar dos seus problemas e ser acolhidas e encaminhadas por um serviço de apoio e de assistência social.
(...)

Maria das Dores Campos Machado, professora da UFRJ - entrevista a Talita Bedinelli, El País,São Paulo, 03/12/2017, 21:48 hs

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