A psicose e a neurose grave são indicações para o Caps. Mas, do que se trata? Comecemos pelo múltiplo. Não há a psicose nem a neurose. Isso evita o naufrágio médico em transcendências clínicas. É que tais transtornos não são mais que entidades pregadas no solo tecnicista da psiquiatria biológica. Ao contrário, rumo à diferença há mil, cem mil psicoses e neuroses a cada instante, em toda a parte. Entretanto, o Caps costuma receber as psicoses e as neuroses biologizadas e encaixotadas num tom de gravidade. Eis o doente! Tal demanda tem o sobrepeso dos corpos no ar da miséria psíquica. É o sofrimento naturalizado, o mundo em fiapos semióticos, a dor invisível: esta é a matéria bruta para o trabalho. Importante: psicoses e neuroses são variações clínicas do mesmo tom subjetivo das relações sociais. As psicoses expressam uma radicalidade existencial. O delírio é o sintoma que lhe preenche como errância e incapacidade de fazer a si mesmo. Por extensão, a angústia, sintoma sem forma, sem foto, sem imagem, sem exame de laboratório, expressa o ir não indo, o ser não sendo, a náusea sartriana revisitada. No acolhimento avalie delírio e angústia como estilhaçamentos do sentido. Em ambos os casos, a natureza dos signos é a mesma, ou seja, o real-social non sense vindo oculto na construção delirante e/ou angustiante. O paciente está só, mesmo não estando. Alguém acode, quem acolhe?
A.M.
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