MONSTROS E SANTOS
Lido a frio, qualquer história do Papado romano escandalizaria ao afirmar que “o Vaticano é um lugar idôneo para cometer um crime”. Quem faz isso o historiador John Julius Norwich, autor do livro Os Papas. A história (publicado em português por Civilização Editora). Norwich argumenta e documenta essa tese muito antes de chegar ao capítulo dedicado a João Paulo I, que pontificou ali por apenas trinta dias, em meados de 1978. Morreu assassinado enquanto dormia? Segundo Norwich, “é o maior mistério papal dos tempos modernos”. João Paulo I detestava a pompa e estava empenhado em devolver a Igreja às suas origens, à humildade e à simplicidade, honestidade e pobreza de Jesus Cristo. Sua recusa em ser coroado com toda a parafernália habitual havia horrorizado os tradicionalistas. Se chegasse a viver muitos anos, sem dúvida teria realizado a revolução que João XXIII não conseguiu levar a cabo com o Concílio Vaticano II. A Cúria estava claramente assustada.
“Ao iniciar minhas investigações, me pareceu que o mais provável é que tivesse morrido assassinado; agora já não tenho mais tanta certeza”, afirma o prestigioso historiador britânico. Salienta que João Paulo I, que morreu enquanto dormia, aos 67 anos, gozava de uma saúde excelente, atestada poucas semanas antes, e que não foi feita nenhuma autopsia ou exame post-mortem. “O Vaticano é um Estado independente, sem um corpo de polícia próprio; a polícia italiana só pode entrar se for convidada, mas não foi”, observa.
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Juan G, Bedoya, El País, Madrid, 13/02;2018, 20:59 hs
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