A QUEM SERVE O CAPS? - III
Começamos a problematizar o Caps pela clínica. É nesse micro-território onde tudo começa. O dispositivo chamado "acolhimento" expressa a vontade de superar a tradição manicomial de massacre à diferença. Por este viés, o paciente é o perigo que alimenta o imaginário paranóico da psiquiatria biológica. Cuidado com ele! Mesmo com a Reforma, isso não é fácil de superar, já que o manicômio não é algo apenas externo, exposto como objeto da percepção do técnico em saúde mental. Ao contrário, há hospitais psiquiátricos disfarçados de Caps, ou mesmo invisíveis, funcionando à luz do dia em todos nós. Então, ao extrair da clínica a psicose e a neurose grave como perfis clínicos para o Caps, é importante realizar uma espécie de raspagem conceitual na crença-afeto sobre o chamado portador de transtorno mental. Isso requer uma desvalorização da psiquiatria biológica em prol de um pensamento múltiplo. Uma clínica órfã. A psicose e a neurose grave passam, então, a ser vistas como modos de existência ou subjetivação. Ainda que geradas na psiquiatria biológico-manicomial, escapam de tal enquadre carcerário para um campo social psicopatogênico. Estão atoladas em focos multicentrados de sofrimentos psíquicos, existenciais, espirituais, mentais, etc. Neste sentido, o trabalho clínico faz jus ao nome "psicossocial" e ao cuidado daí decorrente. A quem servirá o Caps senão ao que está fora dele?
A.M.
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