A questão sobre se a noção de esquerda ainda faz sentido, na minha opinião, é equivocada e perigosa. Sempre existirá esquerda enquanto houver processos democráticos. Bem como sempre existirá uma direita. Nós podemos chamá-la de outra maneira, mas essa é a própria estrutura da democracia, a estrutura contratual entre aqueles que são ricos e aqueles que são miseráveis, entre aqueles que fazem certo uso, e têm uma certa concepção da liberdade, e aqueles que têm uma outra concepção da liberdade e da igualdade. Então, se dizemos que a esquerda acabou, estamos dizendo que não há mais possibilidade dos miseráveis se expressarem, logo a esquerda não acabou. O que está em crise é a esquerda socialista. O socialismo terminou seu curso histórico, pois ele parou diante do que era apenas uma fase que ele deveria conquistar. Mas depois ele parou. Algum grau de liberdade, igualdade e de bem-estar para os trabalhadores, mas, nos últimos tempos, a social-democracia, em nível mundial e também aqui no Brasil, se ligou ao programa neoliberal. Portanto, é preciso reinventar uma esquerda que não seja uma esquerda socialista, alguns chamam de “comunista” essa nova esquerda.
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Antonio Negri, trecho de entrevista ao El País, São Paulo, 03/11/2016, 12:44 hs
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