quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

PENSAR A CLÍNICA

Há uma questão crucial no pensamento de Gilles Deleuze. Está contida na pergunta "O que é pensar?". Isso se mostra útil no trabalho da clínica em psicopatologia se se parte de duas perguntas-chave. 1- do que se trata? 2- o que fazer? A primeira refere-se ao meio onde as coisas acontecem; a segunda à terapêutica. São momentos clínicos ligados numa condição de disponibilidade à prática. É que os dois personagens (paciente e técnico) costumam se encontrar numa linha de risco encoberta pela burocracia das instituições (ambulatórios, caps, consultórios, etc). Tal "encobrimento" é um elemento inconsciente do drama da saúde mental, qual seja o de que o paciente necessita de um remédio para aplacar o seu sofrimento. Ora, se há sofrimento (e há) não é um remédio, seja químico, psíquico, moral, ou de outra natureza, que irá salvá-lo, até porque não há salvação mas a anti-salvação como contato direto de si mesmo com o mundo considerado possível. Assim, num trabalho clínico há que fazer pensar o paciente e quem o atende, não como cognição da realidade, não como repetição cega da mesma, não como dose de conformismo açucarado, mas como invenção de realidades, mesmo as menores, as minúsculas, as invisíveis, as desprezadas pelo senso comum.

A.M.

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