quinta-feira, 14 de junho de 2018

ESTUDO CLÍNICO SOBRE OS DELÍRIOS - VIII

Os delírios podem se expressar em quadros orgânicos. São síndromes psiquiátricas cuja origem (causa) remete a uma lesão e/ou disfunção cerebral ou a uma alteração extra-cerebral com efeitos sobre o funcionamento cerebral. Há uma diversidade muito grande de condições orgânicas que podem levar a esse tipo de delírio. Demência, traumatismo crâneo-encefálico, enfarte do miocárdio, infecção grave, febre, insuficiência urinária, insuficiência hepática, intoxicação por substâncias não psicotrópicas (por ex., anti-alérgicos, analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos, etc). A lista é exaustiva.  Citemos dois dados clínicos básicos desse tipo de quadro psicopatológico. 1-A rigor, qualquer agente orgânico (de dentro ou de fora do corpo) pode produzir delírios, desde que o cérebro seja atingido em sua estrutura (lesão e/ou disfunção); 2-O tratamento busca a eliminação do agente causal, o que torna, em geral, o caso de bom prognóstico. Os delírios desaparecem assim que a "causa" seja suprimida. Apesar disso, deve ser considerada a disposição psíquica singular do delirante. Ou seja, lembrando uma assertiva clássica da medicina ("não há doenças e sim doentes"), por sinal em desuso nos tempos atuais, não é o cérebro quem delira, mas o paciente inserido num Contexto de elementos  múltiplos. Importante marcar essa questão na medida em que, se tais quadros são de origem somática, a interpretação biomédica, guiada pelo mecanicismo, confirmará tal diagnóstico a priori e o paciente não será escutado.

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário