A EXPECTATIVA
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Além dos antissistema e antipetistas, tem outro grupo de eleitores foi aumentando e que faz parte dessa base de saída dele, entre 6% e 10% do eleitorado. São pessoas que estavam extremamente insatisfeitas com as lideranças que tinham e que acreditam que seus valores religiosos e familiares estão sob ameaça. Você tem evangélicos insatisfeitos com a atitude de seus pastores, que negociavam apoio político em seu nome sem representá-los de verdade. E o mesmo com militares de baixa patente em relação ao seus comandantes, instâncias inferiores do judiciário em relação aos seus superiores, baixo clero do sistema financeiro em relação às grandes instituições financeiras, pequenos proprietários em relação aos campeões nacionais, agricultores com relação as lideranças ruralistas. Bolsonaro manipulou o medo dessas pessoas, dizendo "olha, você já perdeu seu emprego, sua autoestima, seu salário, e agora querem tirar sua vida, sua família e sua religião". É uma base de revolta, que se torna antissistema e antipetista, tudo misturado, que é uma base a partir da qual ele consegue ir acrescentando eleitores. São vários interesses difusos aos quais ele não tem condições de atender. Porque, ao mesmo tempo em que ele não foi exposto ao contraditório e teve uma cobertura midiática favorável, ele também não realizou uma operação que é fundamental em qualquer eleição, que é calibrar as expectativas. No momento em que ele ganha a eleição sem ter prometido nada, isso até pode aparecer o ideal, afinal não está comprometido com nada. Mas é o contrário. Porque todo mundo tem o direito de sonhar com tudo. As pessoas vão querendo resultados gigantescos.
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Marcos Nobre, trecho de entrevista ao El País, 16/11/2018, 20:01 hs
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