O QUE É DESEJAR
O desejo não é natural. Ele é, sim, compósito de linhas existenciais produzido pela cultura. Traduz-se em corpos de corpos funcionando através de ligações infinitas na continuidade das superfícies. Do mundo. Aí onde se diz "quero". Trata-se de uma impessoalidade. Algo insiste em fazer valer territórios ainda mais velozes que o mais veloz pensamento de uma criança. Olhar para o sem-forma. Viver de sensações. Tudo vaza entre os lados de uma carta de baralho ao estilo Lewis Carrol. Valete de ouro. Sim, o desejo não é natural. Não está nem aí para as entranhas dos órgãos exaustos do organismo. Porque ele não tem órgãos. Porque ele é órfão. É liso como a pele de um bebê e se expande aos quatro cantos da Terra num grito silencioso. Verdeja na floresta o puro acontecimento. Talvez por isso a cidade dos sonhos esquecidos lhe seja tão hostil.
A.M.
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