AFETOS DE AFETOS
A princípio, pensamos que nosso comportamento é racional, que nossa sociedade é apenas um sistema de normas, leis e regras, e por isso deixamos as paixões de fora. Essa concepção é muito mais arraigada do que percebemos. Mas podemos também considerar a vida social como uma instauração de afetos, sua reprodução e a maneira como eles circulam. Através dos afetos (bio)políticos, algumas coisas podem ser vistas, outras não, algumas podem ser percebidas, outras não, alguns afetos e modos de vida são instaurados, outros são reprimidos, escondidos, nem mesmo percebidos.
Discutir os afetos é fundamental para a filosofia política. As questões psicológicas são sempre negligenciadas como menores, sem importância, não científicas. Mas ainda temos muito a aprender com os afetos, e isso está longe de ser irracionalista! Uma razão precisa considerá-los seriamente, não somos uma cabeça descolada do corpo. Ignorar isso é tornar-se cego para os bloqueios e ampliações do horizonte da experiência comum. Que afetos circulamos, trocamos, produzimos? Como a implicação dos sujeitos na vivência política acontece?
O que acontece na política é também o que acontece em nossas vidas psicológicas! Ou seja, agimos como agimos em consequência de uma instauração de afetos, eles circulam e nos moldam, canalizam o corpo, lhe dão um curso. Enquanto formos afetados da mesma maneira, agiremos e repetiremos sempre as mesmas coisas. Só é possível ter outra experiência da vida social se formos afetados de outras formas. Transformações não são questões de novas ideias, são questões de novos afetos.
(...)
Do site "Razão Inadequada", acessado em 21/11/2018, às 16,30 hs
Nenhum comentário:
Postar um comentário