CONTRA A CORRUPÇÃO
Jair Bolsonaro nomeia como ministro em 1º de janeiro o juiz que tirou seu rival da disputa eleitoral. Sergio Moro aceitou abandonar a Lava-Jato e a magistratura, renegou a promessa de "jamais entrar para a política" e desembarca agora pela segunda vez em Brasília, sem passagem de volta para Curitiba (a primeira vez foi em 2012, durante o julgamento do mensalão, quando atuou como juiz auxiliar da ministra Rosa Weber).
Que o juiz contribuiu para a chegada do ex-capitão ao poder, não resta dúvida. O antilulismo pautou os grupos de Whatsapp partidários de Bolsonaro. Moro divulgou, a seis dias do primeiro turno, um depoimento inédito da delação do ex-petista Antonio Palocci, sem que houvesse razão processual suficiente a justificar o feito. Foi no momento em que Haddad ensaiava a maior guinada. Dizer que Moro agiu mirando o novo cargo, são outros quinhentos.
O juiz calculou o volume de críticas que recebe a partir de agora por causa de sua inesperada decisão. Sabe que é crítica mais simbólica, uma fratura à sua reputação, do que efetiva (seus atos sobre Lula foram confirmados em diferentes instâncias de Justiça). Aceitou pagar o preço para ter nas mãos a mais poderosa estrutura a sustentar o combate à corrupção do país.
O pacote inclui Polícia Federal, recuperação de ativos, cooperação jurídica internacional, além de parte do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf). Usar o Coaf para combater crime organizado é o que há de mais distante da política "olho por olho, dente por dente" do discurso de palanque de Jair Bolsonaro. Se assumir também atribuições do ministério da Transparência, antiga Controladoria-Geral da União (CGU) – diga-se de passagem uma das maiores contribuições dos anos Lula ao país – será o responsável por verificar malfeitos do primeiro escalão do governo.
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Thiago Herdy, Época, Novembro/2018
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