domingo, 30 de junho de 2019

A poesia não existe para comunicar, mas para comungar.

Manoel de Barros

DENIS CHERNOV


PSIQUIATRIA NO CAPS

Num território clínico encharcado pelo uso generalizado de psicofármacos, como fazer a diferença? O próprio paciente quer fármacos, pede isso, mais e mais, naturalizando a função de psiquiatra como a de “passador de remédios”. Mas não só o paciente. “Todos” pedem mais remédios químicos para, entre outros objetivos, manter a ordem no serviço e no mundo. Trata-se de um legado do antigo manicômio que se mantém atuante como necessidade de haver um psiquiatra. São argumentos variados a favor: 1-clínicos: as psicoses são consideradas como as patologias mentais mais graves; por isso, só um psiquiatra estaria capacitado para tratá-las, pelos menos num primeiro instante; 2-morais: os transtornos mentais levam os seus portadores a condutas socialmente inadequadas, às vezes violentas; o psiquiatra deve ser chamado; 3-jurídicos: o psiquiatra é médico e esse dado implica num poder jurídico estabelecido, o que o diferencia dos demais técnicos; 4-institucionais: a relação de poder psiquiatra-paciente fornece o modelo de atendimento que se reproduz como verdade da clínica. Ora, se pretendemos outro tipo de trabalho, a função-psiquiatra deve ser estilhaçada, fragmentada, relativizada, e é desse modo que tentamos nossa inserção no Caps. A escuta do paciente e o movimento dialógico  até os demais técnicos são linhas técnicas que podem fazer surgir um trabalho singular e daí criador de uma ética.

A.M.

No cheiro reside a própria essência da alma, ele permeia tudo de uma forma pertinente e tem a capacidade de abrir as portas do inconsciente, a partir do qual as cenas mais agradáveis e mais dolorosas são semeadas.
(...)
Mercedes Pinto Maldonado

NTR Podium: Lavinia Meijer speelt Philip Glass

A CADA 15 MINUTOS

RIO — Mães perdem filhos, filhos perdem pais. São milhares as histórias atravessadas pela epidemia de mortes no trânsito que o Brasil, há décadas, vive e não tem sido capaz de controlar. A cada 15 minutos, em média, uma morte é registrada nas ruas e estradas do país. Em 20 anos, foram 734.938 óbitos, segundo levantamento do GLOBO a partir de dados públicos do Ministério da Saúde — número superior à população de nove capitais, como Vitória, Cuiabá e Florianópolis.
(...)

Marlen Couto e Marcelo Remigio, O Globo, 30/06/2019, 04:30 hs

sábado, 29 de junho de 2019

Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo.

Caio Fernando Abreu

CONVERSA

(...)
P-O que  causa  os transtornos  mentais?

R- A  etiologia é sempre multifatorial, mesmo que  pareça se  referir  a um só  fator, como por  exemplo o orgânico. Este é mais visível e até  certo ponto mais  “fácil” de ser detectado.  Contudo, há  muito mais a ser pesquisado.Os múltiplos fatores  são subdivididos em arranjos transdisciplinares. Isso quer dizer que não há fronteiras nítidas entre as disciplinas, nem sequer existem disciplinas se pensarmos e trabalharmos segundo uma ótica verdadeiramente transdisciplinar. Entramos num universo sub-representativo.Tudo  passa a ser mistura. Desabam as especialidades e os especialismos.


P- Poderia  explicar melhor  o que você  chama  de  universo   “sub-representativo”?

R-  Trata-se do mundo que  escapa à Identidade do conceito, (sustentada pelo verbo Ser), como quando se diz  “ser-doente-mental”  ou  “ ser-psiquiatra”. Ele está aquém da “representação da  Realidade”, ou seja, fora das coordenadas estáveis da razão, para além da relação do  conceito  com a coisa. O grande  desafio seria descolar o conceito da coisa, fazer o conceito  delirar. É um mundo constituído por processos, movimentos, devires, singularidades. Enfim, temos o campo das multiplicidades, um campo que se opõe aos dualismos estabelecidos, como doente/sadio,  corpo/mente, racional/irracional, etc.


P- Este  seria  propriamente o  universo  da  diferença?

R-Sim, sem dúvida. Mas, pela própria  natureza do seu  funcionamento, é um mundo a se  fazer, a se construir. Nada está  dado  de uma vez  por todas. Neste sentido, a Saúde Mental, vista como uma  instituição, passa a ser questionada em suas bases histórico-sociais. Pergunta-se-ia :a quem efetivamente serve a clínica? para que serve? São questões que se desdobram em  muitas  outras. Elas se unem na busca de uma ética pela vida como potência e alegria. Oh Espinoza!
(...)

A.M.

Guia prático dos sofredores anônimos

Hoje nós vamos sofrer.
Só por hoje vamos sofrer.
Sofrer tudo de uma vez.
Tudo o que há para sofrer.
Vamos sofrer calados.
Vamos sofrer cantando.
Tudo de uma só vez.
Do jeito que der para sofrer.
Sem ressalvas.
Sem reservas.
Sem esquemas.
Sofrer apenas.
Sofrer de olhos abertos.
Sofrer sem sentir pena.
Toda dor será bem-vinda.
Abriremos as feridas.
Toda chaga, toda mágoa.
Só por hoje vamos sofrer.
Sem saber onde.
Sem saber como.
Sem nem querer saber.
Sofrer de braços abertos.
Até não mais poder.
Sofrer sem dizer nada.
Tudo o que há para sofrer.

Bruno Brum

UM DIA MUITO ESPECIAL, de Ettore Scola, 1977

BOLSONARO E A PSICOSE

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (28), na cidade japonesa de Osaka, onde participou de reunião do G20, que em conversa com a chanceler alemã, Angela Merkel, falou para ela que o Brasil é alvo de uma "psicose ambientalista".

Às vésperas do encontro do G20, Merkel afirmou no parlamento alemão que via com "grande preocupação" as ações do governo brasileiro a respeito do desmatamento e que queria ter uma "conversa clara" com Bolsonaro.

"Conversei com ela, foi uma conversa tranquila. Em alguns momentos, ela arregalava os olhos, de maneira bastante cordial. Mostramos que o Brasil mudou o governo, e é um país que vai ser respeitado. Falei para ela também da questão da psicose ambientalista que existe para conosco", disse Bolsonaro em uma entrevista à imprensa.
(...)

Por G1,Brasília e Osaka, 29/06/2019, atualizado há 2 horas


DIAGNÓSTICO ESCATOLÓGICO

Quando a psiquiatria buscava o diagnóstico absoluto (Foucault),  ela queria saber, em cada caso clínico, se se tratava de loucura ou não. O diagnóstico diferencial veio depois e nem era importante. Isto se consolidou na segunda metade do século XIX, na Europa, com os trabalhos de E. Kraepelin. Hoje, as coisas mudaram e não mudaram. Ocorre o seguinte: a identificação da loucura é cada vez menos necessária, na medida em que a medicalização generalizada, junto à sociedade de controle, considera a existência de loucos, doentes a priori, todos nós. Assim, ao invés de um, muitos loucos, milhares, milhões diagnosticados ou em vias de se tornarem e serem efetivamente loucos. É que a dissolução do sentido, o estilhaçamento da subjetividade (quem sou? que se passa?) é um fenômeno planetário que se reproduz "localmente" nas culturas mais diversas. No fundo, só há uma Subjetividade, a capitalística, a burguesa, a classe tornada única, terrível casta dos homens cinzentos, sacerdotes do deus-capital, fim da história. Sob tais condições, como fazer uma clínica da diferença? Como fazer a diferença num mundo indiferenciado?

A.M.
Sou fuga para flauta de pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo

Manoel de Barros

PAVEL MITKOV


sexta-feira, 28 de junho de 2019

Não nos dirigimos aos que consideram que a psicanálise vai bem e tem uma visão justa do inconsciente. Nós nos dirigimos àqueles que acham que toda essa história de Édipo, castração, pulsão de morte…, etc. é bem monótona, e triste, um romrom. Nós nos dirigimos aos inconscientes que protestam. Buscamos aliados. Precisamos de aliados.
(...)

G. Deleuze,  in Conversações

quinta-feira, 27 de junho de 2019

POR QUE DIAGNOSTICAR EM PSIQUIATRIA?

A ênfase que concedemos ao estudo do diagnóstico psiquiátrico prende-se a um dado simples: é através dele que se chega ao conhecimento da doença e às suas possíveis causas (etiologia). O "melhor" diagnóstico, portanto, seria o diagnóstico etiológico. O exemplo das doenças infecciosas é emblemático: a identificação do agente causador (ainda que haja outros fatores em jogo, certamente de menor importância) estabelece um critério etiológico básico. No caso da psiquiatria, tudo muda. Em primeiro lugar, porque não há um consenso sobre o que seria uma "doença mental", ou mais modernamente falando,o que é um "transtorno mental". Em segundo lugar, se não se sabe definir com clareza uma entidade clínica (existe a esquizofrenia? respondo: claro que existe, sim, bem entendido, a experiência esquizofrênica...) como  saber a causa do que não se sabe com certeza o que é? Em terceiro lugar, se o diagnóstico é o lugar do conhecimento, ele é (ou deveria ser) o lugar do pensamento, o ato de pensar  sobre os  chamados transtornos mentais, e por extensão, sobre a saúde mental. Em quarto lugar, como o diagnóstico psiquiátrico surge no século XIX mediado pela moral ("ele está se comportando bem?"), atende a uma vontade de dominar, disciplinar, como bem mostrou Foucault. Daí o poder funciona de modo intrínseco ao enunciado psiquiátrico, sendo impossível escapar dos seus efeitos.

A.M.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Ritmos variados

Sabe, meu Cachoeiro, as coisas nem
sempre saem conforme o combinado.
Nessas ocasiões, apenas me lembro
que tenho um pinto enorme e tudo
parece um pouco melhor.
Os anos se passaram e pequenas
convicções se acumularam
num canto escuro do quarto.
Todos os boleros do mundo
soando juntos deveriam fazer
algum sentido, mas não fazem.

Bruno Brum

segunda-feira, 24 de junho de 2019

CLAUDIO ULPIANO - aula

LGBT VERSUS JAIR

No Brasil de Jair Bolsonaro, acontecem coisas que uma parte de seus compatriotas achava que já não existiam. “Há pouco, no aniversário da minha sobrinha, me chamaram de anormal. Foi uma amiga da minha cunhada”, conta, dolorida, a empreendedora social Isabel Marçal, de 37 anos, ao lado da esposa, a artista plástica Sofia Quevedo, 34. Exibindo bandeiras de arco-íris, elas vieram neste domingo à parada do orgulho LGBT de São Paulo após muitos anos de ausência. “Nunca, em 20 anos, eu tinha sofrido tanto preconceito”, afirma. A crescente hostilidade que sofrem em diversos âmbitos, do poder para baixo, levou o casal de novo às ruas. “Eles não vão tirar nossos direitos tão facilmente”, adverte Isabel no primeiro desfile da era Bolsonaro.
(...)

Naiara Galarraga Cortázar, El País, São Paulo, 23/06/2019, 17:40 hs
O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele.

Friedrich Nietzsche

domingo, 23 de junho de 2019

BUROCRACIA DO GOL

O fascínio que milhões de pessoas têm pelo futebol ...ah, por que será? porque ele é um jogo próximo da vida, da vida enquanto imprevisibilidade. Daí o mistério. Qual o nosso futuro? Qual será o resultado do jogo? Zebras. Cem mil fatores atravessam um jogo e talvez um único fator (sorte/azar por ex.) decida tudo, resolva tudo e conduza o time à vitória. Ou à derrota. O futebol, antes de técnica, é magia e arte. Traz o signo das intensidades do acaso ("por que aquela bola não entrou?") e cria, inventa a condição operacional para a técnica. A capacidade do craque é um dom. A técnica vem depois e fica por conta do treinador, do massagista, do médico,do fisioterapeuta, do professor de educação física e até do psicólogo (se houver). Um treinamento, portanto. O futebol, assim como a vida, não é justo. A mídia costuma recitar a frase banal: "nem sempre ganha o melhor". Ora, aí está a essência do futebol como surpresa,(alegria/tristeza) sem culpa ou julgamento mas celebração profana. Gooooooooll!!! Certo dia, como máquina intrusa, chegou o VAR para interromper/esfriar os fluxos de prazer da torcida (coito interruptus?) e assassinar a estética do erro.Tempos modernos.

A.M.

DENIS CHERNOV


traumas

tantos fatos
decorrentes
das correntes
da memória
são imbróglios
são algemas
que nos prendem
a nós próprios
e nos tornam
tão parados
e inativos

quanto as rochas


Líria Porto

Quero cruzadas e martírio. O mundo é demasiado pequeno para mim. O mundo é pequeno demais. Estou cansada de tocar guitarra, fazer malha, passear, parir crianças. Os homens são pequenos e as paixões são curtas. Irritam- me as escadas, as portas, as paredes, irrita-me o dia a dia que interfere na continuidade do êxtase. Existe pois o martírio - tensão, febre, da continuidade da vida - firmamento em perpétuo movimento e brilho total. Nunca se viram estrelas empalidecer ou cair. Nunca adormecem.

Anaïs Nin

Dead Can Dance performing "Children Of The Sun" Live at the Village on KCRW

A NORMALIZAÇÃO DO CORPO

Há uma relação "íntima" entre o diagnóstico psiquiátrico e o corpo. Outrora, poder-se-ia dizer que o diagnóstico se inscrevia no corpo do paciente. Hoje, não. O diagnóstico passa a ser o próprio corpo, na medida em que a forma-psiquiatria é agenciada como elemento-chave na Saúde Mental. Exemplo prático:  no trabalho clínico o enunciado ("sou bipolar") substitui o dispositivo propedêutico (o exame) pela fala simples e direta do paciente. Pode-se objetar que nem sempre o paciente sabe e/ou diz o "seu" diagnóstico. Não importa. O que está em jogo é o corpo-enunciado o qual é expresso, mesmo que não se expresse. Um paradoxo em cena se resolve pelo recurso ao psicofármaco. Nada de muita conversa. Em pacientes que "não colaboram", os chamados negativistas, portadores de sintomas negativos no dizer psiquiátrico atual, o enunciado compõe um corpo "que não fala mesmo falando". Tal é a clínica do diagnóstico absoluto subjetivado como verdade, entregue ao psiquiatra e aos seus acólitos. A evoluir desse modo, o diagnóstico (não importa qual, nem mesmo se está correto...) dispensará o trabalho do psiquiatra, tornando-o peça decorativa e anacrônica de um esquemão sóciopolítico que o ultrapassa como modelo de normalidade implícita.

A.M.

sábado, 22 de junho de 2019

Muitas vezes já se tinha sentido assim, com os mesmos pensamentos e temores. Em todos os períodos bons, fecundos e ardentes de sua vida, mesmo na sua mocidade, vivera sempre assim, queimando a sua vela pelos dois lados, com um sentimento ora jubiloso, ora soluçante de feroz extravagância, de destruição, com uma desesperada avidez de beber a taça até o fim, com um profundo e secreto medo de chegar ao termo de tudo. Muitas vezes tinha assim vivido, muitas vezes já esvaziara a taça, muitas vezes ardera em altas chamas.
(...)
Hermann Hesse

A MULHER DO LADO - direção de François Truffaut, 1981

O PORCOSSAURO

O Porcossauro não está contente.
Precisa de novos amigos
e um novo lar.
Precisa se esforçar mais
e entender que nada na vida vem fácil.
O Porcossauro caminha pela cidade observando os outros porcossauros
aparentemente mais felizes do que ele.
Sabe que é hora de mudança.
Mas mudar o quê? pergunta-se, angustiado.
Ninguém poderia estar mais triste.
Nem mesmo os porcossauros que não têm onde morar e o que comer.
Tudo depende de você, dizem os porcossauros felizes.
E isso só piora as coisas.
O Porcossauro pensa na Porcossaura e no Porcossauro Jr.
A angústia aumenta.
Não há para onde ir, conclui, atravessando a rua.
Não há por onde continuar.
Mas deve haver um jeito.
Deve haver um jeito, resmunga.
Ou não me chamo Porcossauro.


Bruno Brum

sexta-feira, 21 de junho de 2019

O MÉTODO DA DIFERENÇA

(...)
As crenças são em  grande  parte instiladas pelas formações sociais que  atravessam  os modos  de subjetivação. Ao escutar um  paciente, busque  saber algo de suas crenças, principalmente as primárias,  as  elementares.  A  subjetividade “necessita”de crenças. Poderá   até  mesmo  ser  a crença  na psiquiatria como remédio para os problemas mentais. Cai-se, então,  na  redundância. Problemas sempre existem. Contudo ao  falar  (ou  pensar) “mentais”  há  uma coisificação do   sem-forma, uma substancialização  da mente.  E usa-se a  “coisa=mente”  como munição  de poder para assegurar um saber sobre o outro,  o  paciente. Na  lógica  do  Encontro não  buscamos  um saber,  mas  um  não-saber,  já  que  a loucura é  a “essência” do  não-saber, fundo sem fundo  da condição  humana. Então, a pesquisa  das  crenças  segue o  itinerário   do  acaso,  do  indeterminado e do  desconhecido. É  uma manobra  difícil, já  que  destrói  códigos  inscritos no construto médico do louco.Louco=paciente da mesma forma que tuberculoso=paciente?  Claro  que  não.  Então, no âmbito  biomédico  não  há  chance do  paciente  ser escutado. Este modelo não está  errado.  Ao  contrário,  foi concebido para  isso,  feito  para isso:  trata-se  de um monólogo recitado  na presença  do paciente.  Uma distância se  instaura  como   lugar fixo  de  quem manda e  de   quem  é mandado.  Para  escutar  o  paciente o que  então será preciso? Ora,  a escuta  médica é “filha”  do olhar técnico, imobilizador.  Propomos a  antiescuta como uma atitude  de  escuta para  além da fala padronizada;  “estou  mal”; isto  se    dá como  expressão  de  um  corpo-produção,  sobretudo um  corpo  invisível  que  é preciso achar. Novas  semiologias  serão possíveis.O  psiquiatra  se  despersonaliza. Torna-se  algo que se torna  outra  coisa. Vive nos e  dos paradoxos  da linguagem que o  empurram a    encontrar  o  paciente, o  mundo, o  cosmos.  Não  compreende  o que se  passa. Perplexo, interroga e interroga-se. Dança e entoa  em silêncio  cânticos extraídos  do fundo    de  vielas existenciais. Não  busca  uma ontologia  da  psicose  e/ou  dos transtornos   mentais.  Ele  talvez consiga ser  um  feiticeiro da modernidade  técnica, criando linhas  de  pura alegria (ainda e principalmente)   nas  quedas e surtos dos  pacientes  e  de  si  mesmo.  O método da diferença traz essa possibilidade para  o interior  da  clínica. Os fármacos podem (claro  que  sim!)  ser parceiros  numa empreitada   sem signos  prévios.  Use  e  controle  essa  droga  lícita, sabendo que   ela  pode se  tornar  ilícita  se atentar  contra a criatividade  do   seu  viver.  Não só a química,  mas todo e qualquer  objeto  pode  induzir a uma dependência abjeta.  O  psiquiatra-feiticeiro  não é  esse objeto.  O psiquiatra  remedeiro,  sim. Este se  alimenta  de  subjetividades  enrijecidas,  esvaziadas, ocas,  trastes apelidados  de pacientes.  É  preciso, pois,  um combate incessante contra  a máquina farmacológica.  O  fármaco é   apenas um elemento  prático-terapêutico. Um devir-feiticeiro conta com outros elementos: a sensibilidade,  a intuição, a percepção  do invisível,o  senso de observação,  a  escuta do  silêncio,  a espreita,   todo um conjunto  de dispositivos...
(...)

A.M  in Trair a psiquiatria

CONTRA OS JOVENS

Os jovens brasileiros estão sendo os mais afetados pela deterioração do mercado de trabalho. No primeiro trimestre deste ano, 41,8% da população de 18 a 24 anos fazia parte do grupo dos subutilizados — ou seja, estavam desempregados, desistiram de procurar emprego ou tinham disponibilidade para trabalhar por mais horas na semana.

Em números absolutos, são 7,337 milhões de jovens brasileiros subutilizados, o maior número já registrado desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad) começou a ser apurada em 2012 — destes, 4,26 milhões estavam desempregados, em busca de uma colocação, levando a uma taxa de desemprego entre esse grupo de 27,3%.

Historicamente, a subutilização de brasileiros de 18 a 24 anos é sempre maior no mercado trabalho, mas em momentos de crise essa tendência se agrava porque os jovens têm menos experiências e baixa qualificação. Portanto, são os mais vulneráveis aos momentos de crise.

E, com menos jovens entrando no mercado, cairá a contribuição para o sistema previdenciário, levando prejuízo ao sistema já deficitário.
(...)

Luiz Guilherme Gerbelli e Marta Cavallini, G1, 21/06/2019, atualizado há 6 min.

ANNA RAZUMOVSKAYA


Ponto final

O mundo acaba? Talvez sim.
Porém não como supõem
poetas e profetas. Quem 
treme de medo diante dos 
círculos infernais de Dante;
quem teme as trombetas
do Apocalipse; quem geme
de pânico ao pensar nas geenas
e nos seres estrambóticos
de Hieronymus Bosch. Não, 
a ciência é mais sutil e cruel.
Nenhum temor ou tremor
pressupõe o que pode vir
das sinistras conjecturas
dos cosmólogos. Nem água
nem fogo nem horror dantesco.
Colapso universal e absurdo.
O Big Bang ao avesso.
Todas as dimensões contraídas
num ponto único. Ponto
monstruosamente final.


Carlos Machado
SEM ALMA

O som oficial desta Copa América não é o dos bumbos, batuques ou tambores, muito menos dos cânticos de torcida. O som oficial desta Copa América é o silêncio que paira sobre estádios vazios de alma. Em alguns momentos da estreia do Brasil contra a Bolívia, no Morumbi, o público que rendeu renda recorde à Conmebol parecia apreciar qualquer coisa. Uma orquestra sinfônica, uma peça de teatro ou, talvez, um rali de tênis. Qualquer coisa, menos uma partida de futebol. Com exceção dos gols, a reação mais contundente da plateia foi uma vaia à seleção na saída para o intervalo. Daniel Alves descreveu bem a sensação em campo. Os jogadores podiam ouvir cada instrução de Tite do banco de reservas, como se estivessem num treinamento.
Silêncio, no futebol, significa indiferença. E isso diz mais que as arenas esvaziadas na edição brasileira da Copa América. Até agora, em cinco jogos, a média de 25.000 torcedores por jogo tem feito duelos entre seleções parecerem pelejas de campeonatos estaduais. No empate entre Peru e Venezuela, em Porto Alegre, apenas 11.000 pessoas compareceram à Arena do Grêmio, número cinco vezes menor que a capacidade do estádio. No entanto, o público deve aumentar ao longo da competição, especialmente nas fases finais, assegurando, assim, que esta edição não destoe da média histórica de comparecimento do torneio.
(...)

Breiller Pires, El País, Porto Alegre,17/06/2019,20:52 hs
Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

Nelson Rodrigues

quinta-feira, 20 de junho de 2019

DAVID GILMOUR - Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V) (In Concert)

TEATRO POÉTICO: SÓ PARA LOUCOS

A linguagem poética constitui um território de significações que escapa às coordenadas da razão. Um sentido a se produzir. Desse modo, a busca de singularidades existenciais é facilitada pela aventura de se ler um poema e implicar-se a ele. O que isso quer dizer? Quer dizer formar e firmar conexões afetivas com um ou muitos pedaços do poema ou do poema como um todo, mesmo sabendo que não há todo. Não há todo porque as multiplicidades heterogêneas do texto nunca fecham um sistema ou tamponam um devir. O processo do desejo é irreversível. Ou seja, sem volta. A poesia é isso: multiplicidades do leitor se ligando a multiplicidades do poema na busca de... uma diferença. Ler um poema não é como ler um ensaio de sociologia, por exemplo, mas sim escutar os versos como se escuta uma música ou se sente no corpo as vibrações das cores de um quadro de Emil Nolde, ou no mesmo corpo e ao mesmo tempo o ritmo de um improviso de jazz, ou uma coreografia de Pina Baush, um gol de bicicleta... Poesia não foi e não é feita para interpretar porque ela já é uma interpretação ou mil, cem mil interpretações da realidade. Ou a própria realidade, a realidade em si-mesma. Quando se está apaixonado (isso deveria ser sempre) a poesia cobre e recobre as superfícies do mundo numa película fina de delicadeza, suavizando os pedregulhos das estradas mais longínquas e inóspitas. Tal como em "Asas do Desejo" (Wim Wenders, 1987), o anjo amante do tempo está transfigurado por avistar a trapezista no seu camarim, não por ele ser um anjo, mas por haver entrado num devir-humano, devir-mundo, devir-risco, devir-perigo, devir-paixão, devir-amar. 

A.M.
Anônimo


Onde você estava no dia onze de agosto de mil
[novecentos e trinta e quatro?
No Natal de setenta e sete,
no inverno de mil duzentos e treze?
Onde você se encontrava na madrugada do dia

[vinte para o próximo dia,
primeiro de janeiro do ano passado,
primavera de sessenta e nove
do século quarto?

Onde você passava quando já era tarde
e ninguém te chamava
naquela noite dos anos dourados?
Quando tudo acontecia e sumia sem deixar
[rastros, por onde você andava?


Bruno Brum

DENIS CHERNOV


OUTRA CLÍNICA

Devires são  a  materialidade do real funcionando em conexões. A concepção de Encontro nutre-se desses fluxos. Antes da técnica, o Encontro. Este pode ser com alguém ou com  algo   que não  se assemelhe aos rostos conhecidos. Se houver a manutenção de identidades caras à  psiquiatria,  nada de novo acontecerá. É certo que a psiquiatria  tem uma  identidade;  precisa  disso, vive  disso,  do  idêntico a si mesmo.  Os devires, ao contrário, são relações sem forma, sem ponto fixo de apoio na representação da realidade.Percorrem os sintomas psicopatológicos, dando-lhe um sentido (não um significado) naquilo que acontece ao paciente. Nos quadros  graves o sentido parece ficar encoberto pelos  sintomas. Por exemplo, o paciente não fala, não anda, não se alimenta. A demanda por  um atendimento, às vezes emergencial, faz do sentido um significado simples: ele está  doente e precisa de ajuda. Esta é a clínica da lógica tradicional  parida do modelo biomédico. No entanto, o Sentido emerge do Encontro. Trata-se do devir-loucura, o  que  excede  o imperialismo da  linguagem. Falamos de outra sensibilidade.
(...)

A.M. 
EXPERIMENTAÇÃO DE SI MESMO


(...) Mas o que é, precisamente, um encontro com alguém que se ama? Será um encontro com alguém, ou com animais que vêm povoá-los, ou com ideias que os invadem, com movimentos que os comovem, sons que os atravessam? E como separar tais coisas? Posso falar de Foucault, contar que ele me disse isso e aquilo, detalhar como o vejo. Não é nada enquanto eu não souber encontrar realmente esse conjunto de sons martelados, de gestos decisivos, de idéias em madeira seca e fogo, de atenção extrema e de fechamento súbito, de risos e sorrisos que sentimos serem "perigosos" no mesmo momento em que se sente a ternura – esse conjunto como única combinação cujo nome próprio seria Foucault. Um homem sem referências, diz François Ewald: o mais belo cumprimento... Jean-Pierre, o único amigo que nunca deixei e que não me deixou... E Jerôme, essa silhueta móvel, em movimento, por todo lado penetrado de vida, e cuja generosidade, amor, se alimenta em um lar secreto, JONAS... Em cada um de nós há como que uma ascese, em parte dirigida contra nós mesmos. Nós somos desertos, mas povoados de tribos, de faunas e floras. Passamos nosso tempo a arrumar essas tribos, a dispô-las de outro modo, a eliminar algumas delas, a fazer prosperar outras. E todos esses povoados, todas essas multidões não impedem o deserto, que é nossa própria ascese; ao contrário, elas o habitam, passam por ele, sobre ele. Em Guattari sempre houve uma espécie de rodeio selvagem, em parte contra ele próprio. O deserto, a experimentação sobre si mesmo é nossa única identidade, nossa única chance para todas as combinações que nos habitam. Então nos dizem: vocês não são mestres, mas são ainda mais sufocantes. Queríamos tanto uma coisa tão diferente. 
(...)

G. Deleuze e Claire Parnet, in Diálogos

NAÇÃO ZUMBI - Homem da Gravata Florida

VALDOMIRO E O NADA

Valdomiro toma veneno e não acontece nada.
Toma remédio e não acontece nada.
Toma cachaça e não acontece nada.

Valdomiro abre a janela e não acontece nada.
Inclina o corpo e não acontece nada.
Olha para baixo e não acontece nada.

Até aqui, tudo bem.

Ainda bem que já não pode.
Ainda bem que já não quer.
Ainda bem que já não liga para nada.

Uns acham uma coisa.
Outros acham outra coisa.
Valdomiro não acha nada.


Bruno Brum

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Mais do que em qualquer outra época, a humanidade está numa encruzilhada. Um caminho leva ao desespero absoluto. O outro, à total extinção. Vamos rezar para que tenhamos a sabedoria de saber escolher.

Woody Allen

terça-feira, 18 de junho de 2019


Depressões

Como reconhecer uma depressão? Em outras palavras, o paciente está de fato deprimido? Diagnosticar uma depressão não é fácil, já que  existem múltiplas formas de  estar deprimido. Desse modo, é preciso partir  de uma definição simples para  daí  fazer  desdobramentos clínico-conceituais. Depressão é a perda – em maior  ou menor grau – do desejo de viver. Ora, seguindo Nietzsche, a vida já é desejo. Portanto, não existiria “desejo de viver”. Inferimos, pois, que deprimir é  um não viver, ou, no mínimo, sobreviver em termos vegetativos (o organismo), e no máximo (a alegria) tornar-se  sempre novo, mesmo que esse “novo” seja a coisa mais insignificante. Falamos de polaridades contingentes,  não de  transtornos médicos.  Essas considerações teóricas se conectam com a clínica, naquilo que chamamos de “Encontro” com o paciente. O deprimido (se podemos chamar assim...) traz, antes de tudo, um corpo abatido. Suas queixas: desânimo, sensação de inutilidade de tudo, inibição psicomotora, passado culposo, futuro ameaçador, presente inexistente, inapetência,  insônia, anedonia, às vezes ansiedade (ou angústia), ideação pessimista (“nada presta”), medos indefinidos, fobias, irritabilidade, idéias de suicídio (com ou sem tentativa de se matar), improdutividade, isolamento do mundo (mesmo das pessoas queridas), algias múltiplas,  alucinações ,pseudo-alucinações,  sintomas deliróides de caráter persecutório, etc. A lista é extensa e poderíamos esmiuçá-la. O essencial é considerá-la como expressão clínica das depressões que se singulariza numa depressão. Ou seja, as depressões são multiplicidades singularizadas num acontecimento que é o “deprimir”. Não como  entidade clínica cadastrável na CID-10, por exemplo, mas  uma  composição de forças que se degladiam num território extremamente fluido que é o corpo-tempo. Não há sujeito da depressão. Daí a inutilidade dos conselhos do tipo “reaja, sai dessa, vamos sair, você vai melhorar, você não tem nada do que se queixar", etc). A depressão se instala sem que se perceba,  mesmo percebendo seus signos mais evidentes. É que ela é constitutiva do desejo como um  viver  tão fácil de se tornar desejo de  morrer... “Morrer de amor” expressa bem a radicalidade da vivência depressiva, mergulho arriscado  nas intensidades existenciais. A pesquisa das depressões expõe o nervo dolorido da vida como incessante processo de perdas. E de ganhos.  Não seria a serotonina a chave etiológica (se é que há) para podermos  ir além dos umbrais da experiência depressiva.


A.M.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo.

Caio Fernando Abreu

domingo, 16 de junho de 2019

PAVEL MITKOV


A DESUMANIZAÇÃO


O youtuber que há dois anos deu uma bolacha recheada de pasta de dente a um mendigo em Barcelona, gravou a cena e a publicou na Internet sabia que estava cometendo um crime contra a integridade moral se tivesse intuído que o mundo virtual é regido pelos mesmos direitos e obrigações que o entorno físico. Humilhou uma pessoa vulnerável. E para agravar a situação o divulgou maciçamente através de seu próprio canal do YouTube. Há duas semanas, foi condenado a 15 meses de prisão. As redes sociais não são uma simples e inocente conversa de bar. Têm um eco infinito e, frequentemente, distorcem e corroem a convivência.
O caso do youtuber é uma amostra da desumanização que se instalou nas redes sociais. Os direitos fundamentais das pessoas são atacados, os valores sociais são menosprezados, a intimidade é pisoteada. Como diz o coordenador do curso de pós-graduação de Marketing Digital de La Salle, Ricard Castellet, as redes sociais são uma ferramenta com dois polos: “Amplificaram os fatos puníveis, alguns muito tristes, mas também desenvolveram fluxos de comunicação e de conhecimento, contribuindo para que circulem e se democratizem como nunca. O problema está no uso que fazemos. São fantásticas, mas, se receberem um mal-uso, são plataformas perigosíssimas à convivência”.
(...)

Rosario G. Gómez, El País, 15/06/2019, 19:00 hs
Ironia de Lágrimas

Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.

A Morte lembra a estranha Margarida
Do nosso corpo, Fausto sem ventura…
Ela anda em torno a toda criatura
Numa dança macabra indefinida.

Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das Ilusões o eterno esquife prega.

E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada cega!


Cruz e Sousa 

PSIQUIATRIA: REMÉDIOS À MÃO CHEIA


Só existe o desejo e o social, e nada mais.

G. Deleuze e F. Guattari
DEPRESSÕES: PARA ALÉM DA CONSCIÊNCIA


A abordagem psiquiátrica (atual) das depressões costuma reduzir a complexidade da vivência depressiva ao nexo causa-efeito. Isso não é um erro, mas uma questão de método. Atrelada à visão médica dos organismos enfermos, a clínica psicopatológica dos quadros depressivos estanca suas pesquisas no funcionamento bioquímico (daí a opção por fármacos) e no funcionamento psíquico (daí a opção - geralmente secundária- pela psicoterapia). É de notar que em ambas as linhas etiológicas, o erro básico é o de conceber a depressão com uma doença orgânica e/ou como erro em relação ao senso comum (psicológico) da sociedade onde se insere o paciente. A pergunta que circula - mesmo e principalmente entre os familiares do deprimido- é regida por 2 ítens: 1- se você está doente do organismo, tome remédio químico; 2-se o problema é psíquico, não se justifica que alguém que "tem tudo" (saúde física, juventude, consciência de si, etc, a depender), fique deprimido. Tanto num caso como no outro, a vivência depressiva escapa a uma apreensão real do que está acontecendo subjetivamente com o outro, bem como reduz os fatores etiológicos a um binarismo (corpo/mente) estéril. Isso explica -em parte - a cronificação mortificante de muitas síndromes depressivas, na medida em que o paciente não é de fato escutado em sua dor, como não consegue vislumbrar uma saída, ou pelo menos uma melhora importante dos sintomas anti-vida. Em resumo, ao não considerar as depressões como um fenômeno subjetivo que ultrapassa a visão biomédica mecanicista e reificante em direção aos fatores da cultura, a psiquiatria atual participa de um empreendimento mais amplo, sóciopolítico-clínico-institucional e epistemológico de produzir mais mais deprimidos, cada vez mais, muitos deles atolados numa relação de dependência abjeta aos tratamentos, químicos ou não.

A.M.

Jaqueline comeu salsicha pela primeira vez há trinta anos.
A gente dizia “Vai Jaqueline, experimenta uma”.
Depois de muita insistência, resolveu provar.
(…)
Poucos meses depois, Jaqueline,
Que era evangélica e não assistia tevê,
Abandonou o noivo e sumiu do mapa.


Bruno Brum

ORQUÍDEAS ETERNAS


BOLSONARIANA

Na tarde de sábado, o  presidente Jair Bolsonaro criticou e ameaçou demitir Levy. Bolsonaro disse estar "por aqui" com o chefe do banco, que estaria “com a cabeça a prêmio”.

RIO - Em carta enviada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do BNDES, Joaquim Levy, pediu demissão do cargo. "Solicitei ao ministro da Economia, Paulo Guedes, meu desligamento do BNDES. Minha expectativa é que ele aceda.  Agradeço ao ministro o convite para servir ao país e desejo sucesso nas reformas. Agradeço também, por oportuno, a lealdade, dedicação e determinação da minha diretoria".


Bruno Rosa, O Globo, 16/06/2019, 08:42 hs

sábado, 15 de junho de 2019

Algumas pessoas vêem as coisas como são e perguntam: por quê? Algumas pessoas sonham com coisas que nunca existiram e perguntam: por que não? Algumas pessoas têm de ir para o trabalho e não têm tempo para tudo isso.

George Carlin

sexta-feira, 14 de junho de 2019

JOÃO BOSCO - Lígia

PARA UMA  ANÁLISE DA MEDICINA

É possível uma análise da medicina seguindo duas linhas conceituais ( entre outras). A primeira é a linha institucional. Refere-se à inserção política da medicina na sociedade a que pertence. Como a sociedade, no caso brasileiro, é capitalista, a medicina funciona como forma social conectada ao processo de produção de mercadorias. Os atendimentos médicos, os serviços, as consultas, as técnicas, os exames, etc, tudo é mercadoria exposta na vitrine do Mercado. Isso obedece ao método do capitalismo, o capital. Uma das consequências práticas de tal linha de pesquisa é ir contra um certo humanismo natural da medicina, outrora cercado por doce aura de romantismo. Acreditava-se (acredita-se?) que a medicina queria sempre o bem do paciente e que ser médico era uma profissão "linda" (sem ironia).A segunda linha conceitual diz respeito à visão epistemológica. Ela prioriza as relações de causalidade linear, a observação e descrição de objetos sólidos, mensuráveis e visibilizáveis e a compreensão mecanicista de um organismo físico-químico. Os exames de imagem são exemplos atuais e perfeitos.Está aí a enorme produção de conhecimento como efeito e a escassa produção de conhecimento como origem (etiologia) Ora, essas duas linhas (ou eixos) servem tão só como baliza teórico-prática necessária a uma visão crítica. Ao mesmo tempo não descarta os importantes serviços prestados ao paciente, mormente quando lida com procedimentos diagnósticos precisos e preciosos. E mais ainda em ações velozes nas terapêuticas de emergência. Como diria um bioquímico, a Emergência "tira gente da cova". Em suma, esse breve artigo tenta sobretudo por a medicina como um empreendimento social, mesmo que se mostre obra de algum doutor (o médico) ou expresse o indivíduo como único beneficiário (o paciente). Para além de uma relação dual, a medicina é uma relação coletiva, entendendo o coletivo como a multiplicidade do ser humano. Trata-se de uma ética de vida, ética da potência  que precede (ou deveria preceder) as duas linhas referidas. 

A.M.
Canção bêbeda


Estou bêbedo de tristeza,
De doçura, de incerteza,
Estou bêbedo de ilusão,
Estou bêbedo, estou bêbedo,
Bêbedo de cair no chão.


Os que me virem caído
Pensarão que estou ferido.
Alguém dirá: "Foi suicídio!"
"É um bêbedo!" outros dirão.


E ficarei estirado,
Bêbedo, desfigurado.


Talvez eu seja arrastado
Pelas ruas, empurrado,
Jogado numa prisão.


Ninguém perdoa o meu sonho,
Riem da minha tristeza,


Bêbedo, bêbedo, bêbedo,


Em mim, humilhada a glória,
Escarnecida a poesia,


Rasgado o sonho, a ilusão
Sumindo, a emoção doendo.


E ficarei atirado,
Bêbedo, desfigurado.


Dante Milano

ELISA AND MARCELA Trailer (2019) Netflix Drama Movie

A PSIQUIATRIA COMPARECE

RIO — O juiz federal Bruno Savino, da 3ª vara da Justiça Federal em Juiz de Fora (MG), absolveu Adélio Bispo de Oliveira, de ter dado uma facada no presidente Jair Bolsonaro (PSL), durante ato de campanha em Juiz de Fora, em setembro de 2018. A absolvição se deu de modo impróprio, porque o agressor sofre de transtorno delirante persistente, segundo pareceres médicos da defesa de Adélio e de peritos escolhidos pela acusação, que o torna inimputável. Ou seja: não pode ser punido criminalmente.
(...)

Pedro Capetti, O Globo, 14/06/2019, 7:20 hs

ANNA RAZUMAVSKAYA


para um rosto
desconhecido
de mulher
num bar à noite
                        esta flor


A.M.

VERDADE DOS SIGNOS

(...) O que nos força a pensar é o signo. O signo é o objeto de um encontro; mas é precisamente a contingência do encontro que garante a necessidade daquilo que ele faz pensar. O ato de pensar não decorre de uma simples possibilidade natural; é, ao contrário, a única criação verdadeira. A criação é a gênese do ato de pensar no próprio pensamento. Ora, essa gênese implica alguma coisa que violenta o pensamento, que o tira de seu natural estupor, de suas possibilidades apenas abstratas. Pensar é sempre interpretar, isto é, explicar, desenvolver, decifrar, traduzir um signo. Traduzir, decifrar, desenvolver são a forma da criação pura. Nem existem significações explícitas nem idéias claras, só existem sentidos implicados nos signos; e se o pensamento tem o poder de explicar o signo, de desenvolvê-lo em uma Idéia, é porque a Idéia já estava presente no signo, em estado envolvido e enrolado, no estado obscuro daquilo que força a pensar. Só procuramos a verdade no tempo, coagidos e forçados. Quem procura a verdade é o ciumento que descobre um signo mentiroso no rosto da criatura amada; é o homem sensível quando encontra a violência de uma impressão; é o leitor, o ouvinte, quando a obra de arte emite signos, o que o forçará talvez a criar, como o apelo do gênio a outros gênios. As comunicações de uma amizade tagarela nada são em comparação com as interpretações silenciosas de um amante. A filosofia, com todo o seu método e a sua boa vontade, nada significa diante das pressões secretas da obra de arte. A criação, como gênese do ato de pensar, sempre surgirá dos signos. A obra de arte não só nasce dos signos como os faz nascer; o criador é como o ciumento, divino intérprete que vigia os signos pelos quais a verdade se trai. 
(...)

Gilles Deleuze in Proust e os signos

GREVE GERAL

Trabalhadores de diversas categorias cruzaram os braços nesta sexta-feira, 14, em ao menos nove Estados e o Distrito Federal, segundo os organizadores, contra a reforma da Previdência, em defesa da educação e por mais empregos. A greve geral, organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), juntamente com Força Sindical e outras centrais, afeta ônibus, trens e metrôs, bancos e escolas. Caminhoneiros, metalúrgicos, químicos, professores, servidores públicos e profissionais da saúde, portuários, metroviários e bancários aprovaram paralisação em assembleia. Em São Paulo, o Metrô opera parcialmente.
(...)

El País, São Paulo,14/06/2019, 18:41 hs