sábado, 8 de junho de 2019

SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA

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Os  modos  de  subjetivação   costumam  não   ser  considerados, exceto  os da  própria  psiquiatria como   produção  do doente, hoje, cerebralizado  e   biologizado. Tanto é verdade  que  o conceito  de subjetividade  aparece em psicopatologia   como estando  ligado à  psicologia . Neste sentido, surge  a questão: quem fala ao  psiquiatra? Quem é aquele  que  se diz  (ou diz que é) o  paciente? Afinal, quem é o paciente? Quem é  o sujeito? Aí está  o motivo de  se  buscar uma teoria da subjetividade  que  responda  pela  subjetivação dos quadros  nosológicos, mesmo os  ditos  orgânicos.  Nas  linhas classificatórias  da CID-10  encontramos  comportamentos, atos, condutas, sintomas, mas  nenhuma  referência ao modo de subjetivação que  precede e  constitue  tais  alterações. Fim da psicopatologia?  Transtorno mental  seria  o mesmo  que  transtorno  cerebral  ou de  conduta? Que se passa? Propomos um descentramento  radical   em relação  à  medicina psiquiátrica. Desse  modo, a  “loucura”  torna-se  um  objeto de pesquisa  exatamente   porque  ela  não  é  um objeto  médico,  não faz  parte do universo  médico.  Começamos  por  defini-la em meio a  todas as  dificuldades práticas e epistemológicas em torno. Loucura é a experiência do sem-sentido, do não-sentido  que se expressa como sentido. É o acontecimento nos termos colocados por G. Deleuze. Clinicamente é o desamparo do eu, a exclusão do eu como  princípio ordenador  da  experiência do paciente no mundo. O dito psicótico traz isso, nos diz  isso, e só assim podemos pensá-lo e atendê-lo. Desse modo o conceito de loucura  é  um  objeto de  investigação voltado à criação de problemas. Tanto melhor se isso  produzir um efeito de sentido na clínica tradicional. A subjetividade (como essência imóvel) não existe. Há só modos de subjetivação, processos existenciais, singularidades nômades. Esse dado vem encoberto (culturalmente)  pelos artefatos da razão e da consciência. Como então situar a  subjetividade na psicopatologia  clínica?  Como inseri-la  numa  prática  clínico-psiquiátrica e ao mesmo tempo não psiquiátrica?  Lidamos com paradoxos. A loucura está todo o tempo na clínica. A loucura é a clínica. Isso pressupõe a linha (arriscada) do acontecimento-sentido, o que precede os  encontros, bons ou maus. Modos de subjetivação estão inscritos no corpo afetivo  da  relação  técnico-paciente. Que relação  é essa? 
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A.M.

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