quarta-feira, 12 de junho de 2019

AMOR, 2019

Quando era jovem, e tinha mente e quadris mais estreitos, julgava o próximo com a arrogância de uma juíza suprema. Esta é uma fresca, aquele, um sacana; aquela, uma chifruda. Até que certa vez uma cabeleireira, enquanto me fazia mechas, me falou que ficava uma vez por mês com seu ex-marido, de quem se divorciara de uma forma ruim, e se envolviam em consagrações sexuais, sem motivo, às escondidas de seus novos parceiros, com quem estavam felicíssimos. Eu disse que bom, que europeus, que modernos, mas me escandalizei tanto que meu sangue subiu e a vermelhidão chegou ao meu loiro platinado. As coisas estavam mal em casa e eu começava a pôr minhas barbas de molho, para que não me fossem cortadas num golpe só. E me cortaram, é claro. Desde então, tenho me alargado. Na cabeça e no traseiro. Hoje, acredito que o que é amor e o que é sexo, e as múltiplas combinações entre ambos, é algo tão pessoal e intransferível quanto a senha do celular. E que cada um ama como quer ou pode, e ainda bem.
(...)

Luz Sánchez-Mellado, El Pàís, 12/06/2019, 13:26 hs

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