DIAGNÓSTICO ESCATOLÓGICO
Quando a psiquiatria buscava o diagnóstico absoluto (Foucault), ela queria saber, em cada caso clínico, se se tratava de loucura ou não. O diagnóstico diferencial veio depois e nem era importante. Isto se consolidou na segunda metade do século XIX, na Europa, com os trabalhos de E. Kraepelin. Hoje, as coisas mudaram e não mudaram. Ocorre o seguinte: a identificação da loucura é cada vez menos necessária, na medida em que a medicalização generalizada, junto à sociedade de controle, considera a existência de loucos, doentes a priori, todos nós. Assim, ao invés de um, muitos loucos, milhares, milhões diagnosticados ou em vias de se tornarem e serem efetivamente loucos. É que a dissolução do sentido, o estilhaçamento da subjetividade (quem sou? que se passa?) é um fenômeno planetário que se reproduz "localmente" nas culturas mais diversas. No fundo, só há uma Subjetividade, a capitalística, a burguesa, a classe tornada única, terrível casta dos homens cinzentos, sacerdotes do deus-capital, fim da história. Sob tais condições, como fazer uma clínica da diferença? Como fazer a diferença num mundo indiferenciado?
A.M.
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