CONVERSA
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P-O que causa os transtornos mentais?
R- A etiologia é sempre multifatorial, mesmo que pareça se referir a um só fator, como por exemplo o orgânico. Este é mais visível e até certo ponto mais “fácil” de ser detectado. Contudo, há muito mais a ser pesquisado.Os múltiplos fatores são subdivididos em arranjos transdisciplinares. Isso quer dizer que não há fronteiras nítidas entre as disciplinas, nem sequer existem disciplinas se pensarmos e trabalharmos segundo uma ótica verdadeiramente transdisciplinar. Entramos num universo sub-representativo.Tudo passa a ser mistura. Desabam as especialidades e os especialismos.
P- Poderia explicar melhor o que você chama de universo “sub-representativo”?
R- Trata-se do mundo que escapa à Identidade do conceito, (sustentada pelo verbo Ser), como quando se diz “ser-doente-mental” ou “ ser-psiquiatra”. Ele está aquém da “representação da Realidade”, ou seja, fora das coordenadas estáveis da razão, para além da relação do conceito com a coisa. O grande desafio seria descolar o conceito da coisa, fazer o conceito delirar. É um mundo constituído por processos, movimentos, devires, singularidades. Enfim, temos o campo das multiplicidades, um campo que se opõe aos dualismos estabelecidos, como doente/sadio, corpo/mente, racional/irracional, etc.
P- Este seria propriamente o universo da diferença?
R-Sim, sem dúvida. Mas, pela própria natureza do seu funcionamento, é um mundo a se fazer, a se construir. Nada está dado de uma vez por todas. Neste sentido, a Saúde Mental, vista como uma instituição, passa a ser questionada em suas bases histórico-sociais. Pergunta-se-ia :a quem efetivamente serve a clínica? para que serve? São questões que se desdobram em muitas outras. Elas se unem na busca de uma ética pela vida como potência e alegria. Oh Espinoza!
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A.M.
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