sábado, 29 de junho de 2019

CONVERSA

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P-O que  causa  os transtornos  mentais?

R- A  etiologia é sempre multifatorial, mesmo que  pareça se  referir  a um só  fator, como por  exemplo o orgânico. Este é mais visível e até  certo ponto mais  “fácil” de ser detectado.  Contudo, há  muito mais a ser pesquisado.Os múltiplos fatores  são subdivididos em arranjos transdisciplinares. Isso quer dizer que não há fronteiras nítidas entre as disciplinas, nem sequer existem disciplinas se pensarmos e trabalharmos segundo uma ótica verdadeiramente transdisciplinar. Entramos num universo sub-representativo.Tudo  passa a ser mistura. Desabam as especialidades e os especialismos.


P- Poderia  explicar melhor  o que você  chama  de  universo   “sub-representativo”?

R-  Trata-se do mundo que  escapa à Identidade do conceito, (sustentada pelo verbo Ser), como quando se diz  “ser-doente-mental”  ou  “ ser-psiquiatra”. Ele está aquém da “representação da  Realidade”, ou seja, fora das coordenadas estáveis da razão, para além da relação do  conceito  com a coisa. O grande  desafio seria descolar o conceito da coisa, fazer o conceito  delirar. É um mundo constituído por processos, movimentos, devires, singularidades. Enfim, temos o campo das multiplicidades, um campo que se opõe aos dualismos estabelecidos, como doente/sadio,  corpo/mente, racional/irracional, etc.


P- Este  seria  propriamente o  universo  da  diferença?

R-Sim, sem dúvida. Mas, pela própria  natureza do seu  funcionamento, é um mundo a se  fazer, a se construir. Nada está  dado  de uma vez  por todas. Neste sentido, a Saúde Mental, vista como uma  instituição, passa a ser questionada em suas bases histórico-sociais. Pergunta-se-ia :a quem efetivamente serve a clínica? para que serve? São questões que se desdobram em  muitas  outras. Elas se unem na busca de uma ética pela vida como potência e alegria. Oh Espinoza!
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A.M.

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