terça-feira, 11 de junho de 2019

SEM SONHO

Li de passagem que o Presidente Jair Bolsonaro “tinha um sonho”. Fiquei curioso e procurei a notícia. O sonho de um Presidente como o do Brasil com tanto poder e tantos motivos para utopias poderia chegar a me emocionar. Seu sonho, entretanto, pouco se parecia ao sonho de Martin Luther King, quando disse: “Sonho que um dia os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos donos possam sentar-se juntos à mesa da irmandade”. O sonho de Bolsonaro era menor, era poder compartilhar uma moeda única com a Argentina. Um sonho de pouca importância e pouca poesia. A moeda se chamaria “peso real”. Esse sonho logo se eclipsou quando os analistas lembraram que hoje na Argentina são necessários 45 pesos para comprar um dólar e no Brasil, 3 reais. E que a inflação do país irmão é de 40% enquanto a brasileira é dez vezes menor.
A poesia do sonho de Bolsonaro foi imediatamente um prato cheio para os humoristas. Não seria melhor chamá-la de PESO MORTO ou também PELADONA, mistura de Pelé e Maradona? A moeda dos sonhos do Presidente já tem nome. Ele, cujo lema é “Brasil acima de tudo”, não pôde nomeá-la. No “peso real”, a moeda argentina aparece à frente da do Brasil. Por que, dadas as dimensões dos dois países e as diferenças econômicas que os separam, não poderia se chamar então “real peso”?
(...)

Juan Arias, El País, 11/06/2019, 11:24 hs

Nenhum comentário:

Postar um comentário