SEM TROCA
A generalidade apresenta duas grandes ordens: a ordem qualitativa das
semelhanças e a ordem quantitativa das equivalências. Os ciclos e as igualdades são seus
símbolos. Mas, de toda maneira, a generalidade exprime um ponto de vista segundo o
qual um termo pode ser trocado por outro, substituído por outro. A troca ou a substituição
dos particulares define nossa conduta em correspondência com a generalidade. Eis por
que os empiristas não se enganam ao apresentar a ideia geral como uma ideia em si
mesma particular, à condição de a ela acrescentar um sentimento de poder substituí-la por
qualquer outra idéia particular que se lhe assemelhe sob a relação de uma palavra. Nós,
ao contrário, vemos bem que a repetição só é uma conduta necessária e fundada apenas
em relação ao que não pode ser substituído. Como conduta e como ponto de vista, a
repetição concerne a uma singularidade não trocável, insubstituível. Os reflexos, os ecos,
os duplos, as almas não são do domínio da semelhança ou da equivalência; e assim como
não há substituição possível entre os verdadeiros gêmeos, também não há possibilidade
de se trocar de alma. Se a troca é o critério da generalidade, o roubo e o dom são os
critérios da repetição. Há, pois, uma diferença econômica entre as duas.
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e repetição
Obs.: grifos meus
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