quinta-feira, 11 de julho de 2019

SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA

Numa acepção inspirada em  Gilles  Deleuze e Félix  Guattari, subjetividade refere-se às formas de sentir, pensar, perceber e agir que  se expressam na relação do indivíduo com  o  mundo.  A subjetividade vem de  fora. Ela é social e mais  precisamente  coletiva. O  indivíduo  é uma  espécie  de  terminal da  produção coletiva  da  subjetividade. Claro que  o corpo é  a referência  maior,  pois  não  existiria  indivíduo  sem um corpo.  Precisamos ver algo. Mas  esse corpo, com   a sua  organização anátomo-fisiológica, está encravado numa rede coletiva de significados não necessariamente  visíveis.  Ainda  assim, o   coletivo   não é algo abstrato, distante de nossas vidas cotidianas. Ao contrário, ele se  operacionaliza  no  e  através  o funcionamento das  instituições,  formando linhas de vida no que  se chama  “subjetivo”. Dizer ”subjetivo=coletivo” é uma  equação que serve  para se  pensar a  mente e os  transtornos  mentais.  A subjetividade nos governa  a  partir de determinações que  escapam à consciência, ao  eu   e à  razão. Estas  categorias  são produtos  sociais  que  servem para  manter a  estabilidade do cotidiano da civilização onde  vivemos.  Funcionam  “naturalmente”. O  nosso  problema aqui  é  o  conceito  de subjetividade fabricado  em meio a um conjunto de nomes da  clínica  que  a psiquiatria  entronizou  como sendo  “A  clínica  dos  transtornos mentais”.  Esta clínica  começa com as condutas socialmente inadequadas, e se consuma no diagnóstico (impreciso)  de  psicose, mas  se  expande, se alastra, incluindo até mesmo quadros não  psicóticos. Sua ambição é  abarcar  a  gama das condutas humanas num sistema classificatório: a CID-10. É uma clínica estagnada no ponto em que o cérebro estabeleceu limites anátomo-fisiológicos (e estruturais) ao  pesquisador.  Entretanto,  como  no caso dos afetos, precisamos  de  uma  máquina  teórica  que  capte a  velocidade do universo subjetivo, traga respostas do que se passa na Vivência e fale do desejo. E que não se reduza  às cintilações fisico-químicas do organismo, nem mesmo ao imaginário  do eu ou às regras de conduta na sociedade. Buscamos outra coisa. Para que isso seja possível, será necessário considerar o processo de produção desejante em situações concretas. Práticas de vida...
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A.M. in Trair a psiquiatria

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