SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA
Numa acepção inspirada em Gilles Deleuze e Félix Guattari, subjetividade refere-se às formas de sentir, pensar, perceber e agir que se expressam na relação do indivíduo com o mundo. A subjetividade vem de fora. Ela é social e mais precisamente coletiva. O indivíduo é uma espécie de terminal da produção coletiva da subjetividade. Claro que o corpo é a referência maior, pois não existiria indivíduo sem um corpo. Precisamos ver algo. Mas esse corpo, com a sua organização anátomo-fisiológica, está encravado numa rede coletiva de significados não necessariamente visíveis. Ainda assim, o coletivo não é algo abstrato, distante de nossas vidas cotidianas. Ao contrário, ele se operacionaliza no e através o funcionamento das instituições, formando linhas de vida no que se chama “subjetivo”. Dizer ”subjetivo=coletivo” é uma equação que serve para se pensar a mente e os transtornos mentais. A subjetividade nos governa a partir de determinações que escapam à consciência, ao eu e à razão. Estas categorias são produtos sociais que servem para manter a estabilidade do cotidiano da civilização onde vivemos. Funcionam “naturalmente”. O nosso problema aqui é o conceito de subjetividade fabricado em meio a um conjunto de nomes da clínica que a psiquiatria entronizou como sendo “A clínica dos transtornos mentais”. Esta clínica começa com as condutas socialmente inadequadas, e se consuma no diagnóstico (impreciso) de psicose, mas se expande, se alastra, incluindo até mesmo quadros não psicóticos. Sua ambição é abarcar a gama das condutas humanas num sistema classificatório: a CID-10. É uma clínica estagnada no ponto em que o cérebro estabeleceu limites anátomo-fisiológicos (e estruturais) ao pesquisador. Entretanto, como no caso dos afetos, precisamos de uma máquina teórica que capte a velocidade do universo subjetivo, traga respostas do que se passa na Vivência e fale do desejo. E que não se reduza às cintilações fisico-químicas do organismo, nem mesmo ao imaginário do eu ou às regras de conduta na sociedade. Buscamos outra coisa. Para que isso seja possível, será necessário considerar o processo de produção desejante em situações concretas. Práticas de vida...
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A.M. in Trair a psiquiatria
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