PRODUZIR UM CONCEITO - IV
Será capaz o técnico em saúde mental de desenvolver um trabalho afirmativo? Vejamos: em primeiro lugar ele se implica ao Caps via cuidado ao outro, o paciente. O cuidado é que o move. Em segundo, funciona no interior da equipe num regime de trocas e conexões produtivas não hierarquizadas. Trabalhar em equipe é o sentido da sua prática. Em terceiro, busca inventar novas éticas ao sabor dos encontros clínicos, mesmo e principalmente os mais insólitos. Em quarto, extrai de cada um dos papéis profissionais (colegas) aprendizados do dia-a-dia. Ser com o outro, tornar-se outra coisa, um terceiro que não é ele nem o outro: eterna mutação. Em quinto, fabrica uma ética da produtividade e da autonomia existencial como os objetivos terapêuticos maiores. Em sexto, usa da arte a capacidade de fabricar uma estética do mundo no interior da própria clínica, ainda que esta possa ser feia. Não teme o horror dos tempos. Em sétimo, sai à rua, não só em visitas domiciliares, mas deixa entrar em si mesmo a rua, o mundo social quando das perguntas: onde? quando? por que? para que? etc. Em oitavo, trabalha na espreita do que acontece de modo inesperado, invisível e traça uma percepção fina do Caps como serviço público e lugar do coletivo-em-nós. Em nono, usa o diagnóstico psiquiátrico apenas como função de ajuda ao paciente e não como função-de-controle. Em décimo, pesquisa os mil afetos (bons e maus) que constituem a sua relação com o paciente e a dele consigo mesmo.
A.M.
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