domingo, 7 de julho de 2019

Universo  da   diferença

                                                                                            
Nada é  estável.  Mesmo  a natureza,  com  seu cortejo teológico (produto humano)  anexado à crença numa “maternidade”, é  mutante e fluida.  Mãe-natureza, você  nos  socorre?  Nada.Não  há garantias, salvação ou igualdade de  direitos. Quem estabelece os direitos? A natureza é em essência cruel e indeterminada, ainda que bela. Esqueça a moral. O argumento da prática é o empírico invisível e fugidio. Defensores do estado (e do mercado) se pegam em discursos intermináveis e abstratos. Eles querem mais é  controlar a natureza. Ao contrário,  o universo   da diferença não tem controle, não tem  cronos, não tem consciência.Tudo é artifício. O caos se avizinha num tom musical. Aproveite.A questão é a da vida. Encontrar quem o socius    codificou como o excluído, mesmo que, pela via da ciência, seja o incluído. As palavras iludem  e  fazem de um problema, a solução. Inverta a  frase: faça  da solução um problema. Nada a  compreender,  mas a aceitar, a conectar, a captar, a sentir. Quem  delira espaços, culturas,  povos,  cidades, políticas e a abertura do  cosmos?  Quem habita zonas produtivas e povoadas do inconsciente?  Como chegar às angústias do seu  mundo? A psiquiatria tipifica um megafracasso. A psicanálise,  arrogante,  brocha. Estamos a buscar espíritos sensíveis sem o  bom senso do cristianismo secular.  Traçar linhas da existência onde o capitalismo vacila.  Investir um risco infinito: afinal,  quem é você?  Não uma identidade, estou  certo. A hora do  sonho cedeu  lugar à exigência  de uma  tarefa clara. Foi ao banco? Pagou suas contas?  O  coração da gente é o de uma rua da metrópole. Hoje, o alimento dos deuses do capital fez de órfãs entranhas edipianas:  escravizaram-nas. Resistir, sim, resistir na medida em que nasça o inumano em nós. Estar  em carne, mesmo em espírito. Viver de paradoxos. Não estar à margem, mas ser a margem.Pertencer ao universo que deixa o tempo entoar canções sem dono. A psiquiatria não quer isso.  Ela odeia a diferença. Não combina. Tem ares de um saber espúrio.Tampouco a sociedade estabelecida. Ela se alimenta  de narcisos. Há boas intenções, sabemos. Sempre há. Afinal, o humanismo marcou nossos gens. Mas um riso sem motivo tornou-se o motivo do riso. A hora do acontecimento se aproxima. 

A.M.


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