quarta-feira, 31 de julho de 2019

O MÉTODO DA DIFERENÇA

Um exame do humor pode explicitar o roteiro da diferença. Os afetos  precedem o  humor. Este  é um  tipo de afeto resultante de forças múltiplas :  bioquímicas, psíquicas,  sociais, coletivas, etc.  O  pesquisador (obtuso)  da mente prioriza a primeira  força em nome do  ideal  asséptico  da ciência positivista.  Tudo é cérebro como origem. Trata-se de um reducionismo  fabricado em nome da razão médica. Ao inverso, buscamos detectar  afetos sutis que só se expressam  (grosseiramente)como depressão, e daí se inscrevem num rebaixamento da vitalidade. Isso pode ser a  depressão como  “doença”  ou  tão apenas uma  síndrome ou uma reação depressiva  às circunstâncias sócio-metafísicas. De todo modo, o encontro com os afetos busca a intensidade dos mesmos a partir das condições subjetivas do  paciente. Qualquer um pode deprimir à  medida em que vivencia a cultura da culpa inscrita na carne. Somos todos cristãos e deprimidos. O paciente traz o humor como  um dado que muitas  vezes lhe foi  inculcado: “sou  bipolar”.  Trata-se  de  um processo de  subjetivação  psiquiátrica que se impõe como verdade diagnóstica. Devires são cortados. O humor  hipotímico “evolui” para um grau de vitalidade compatível  com a  doença psiquiátrica:  ausência  da vontade  de viver.  Como  recusar o grito desesperado do paciente? Claro que há outras  depressões, talvez não tão graves, mas necessitadas de atenção e acolhimento. No ato do encontro  é  possível  diferenciá-las em função da  demanda por  ajuda. O  humor não  é como  a “glicose”, portanto  a sua medição não é a “glicemia”. O humor  é  o  desejo em uma  de  suas  expressões  traduzidas num   contexto. 
(...)

A.M. in Trair a psiquiatria

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