em construção
a casa que não construí pra mim
era habitada por fantasmas
aquele velho clichê
mas os fantasmas que habitavam
a casa que não construí pra mim
não tinham correntes nem toalhas
encharcadas de lençóis dormidos
não pregavam os olhos pelas paredes
não traziam cabeças em bandejas
porcelanatos, velas, alho, vinho
vi um lenço — acho que vi
mas nada de retrato, espectros
bolor, visco, esparadrapos
pegada alguma, nada
sabia que um dos fantasmas
devia ser uma menininha
pois num quarto as bonecas
viviam espalhadas pelo soalho
já o outro fantasma, nem sei
não derrubava pratos, panelas
escutava-se apenas o pranto
dum ventre em decomposição
como se me bastasse
pois aquele cheiro
aquele velho cheiro
era o cheiro de casa
a casa que não construí pra mim
habitada por fantasmas que
todos sabemos bem
não existem
Caco Ishak
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