NOTAS ANTIDEPRESSIVAS
Há pacientes que já chegam com o diagnóstico de depressão. Tal diagnóstico muitas vezes lhes foi cravado por médicos apaixonados pela prescrição do remédio químico. De certo modo, induzem os pacientes a dizerem a priori: "Eu sou a depressão". Esta se torna uma espécie de identidade factícia que tampona um "vazio" subjetivo de causas, etiologias e linhas existenciais heterogêneas. Tal diagnóstico "autoriza" o uso indiscriminado e violento dos psicofármacos. Além disso, a crença instilada na mente do paciente é a de que o tal remédio irá curá-lo, ainda que a palavra "cura" possa não ser usada. Camuflada, circula implícita mas não menos atuante na produção da "doença" do século, a depressão. É possível saber histórias de terror clínico através dos próprios pacientes quando de relatos anamnésticos. O essencial a reter dessa linha de análise é: 1-Há vários, muitos, múltiplos tipos de depressão que não se coadunam com as categorias semiológicas da CID-10; 2-Sendo assim há depressão com indicação para psicoterapia e/ou farmacoterapia. Isso depende da percepção fina do outro. 3-A depressão grave (antiga endógena, hoje bipolar) tem indicação para farmacoterapia (mas, claro, sem a retórica mercadológica dos estabilizadores do humor) desde que haja suporte psicológico do psiquiatra, o que não significa psicoterapia no sentido usual. Quer dizer que o remédio químico, por melhor e mais "avançado", está inserido no Encontro com o paciente, e não o contrário. 4-Há pessoas não deprimidas diagnosticadas como deprimidas. Talvez, sob a palavra de ordem do psiquiatra biológico em sua cruzada medicamentosa (a intoxicação cavalar) tornem-se, enfim, deprimidas for ever. 5-A depressão não é uma entidade clínica ou uma essência do ser-doente, mas uma síndrome psíquica produzida em meio a agenciamentos de forças (multiplicidades) que é preciso pesquisar; 6- A depressão pode estar no mundo e não no paciente...
Obs.: texto republicado.
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