NOMADIS TEMPORIUM DELIRIUM EST (*)
Antonio Moura e Isac Neto
comedor de criancinhas! Sai de reto, Satanás! Tudo bem, tudo bem, eu aceito, porque vocês não sabem do lixo ocidental. Vocês não sabem! Se o supereu fosse cor de sangue, menos mal, mas é o próprio sangue que escorre dos bidês. E os divãs recebem o cheque-caução. O que os psicoterapeutas e psiquiatras sabem da loucura? Cadáveres gordos, não sentam à mesa com o “pobre” paciente. Ou rico? Onde começa, enfim, a besta e termina o homem? Onde começa o homem e termina a besta? No apocalipse há respostas múltiplas. Meu coração flerta com o paganismo. A hora da besta se avizinha na roupagem de um mero terremoto à escala 8.8. Todos medram à medida que não se tem controle. A psicopatologia nasce das fímbrias do lado indecifrável da natureza bela, aquela do pôr do sol. Lindo!! Minha patologia escorre pelos ossos e faz da voz um resquício humano de antigas eras. Dói a dor de existir e ao mesmo tempo as mulheres acariciam intensidades não exploradas. Deus é uma palavrinha. Quem inventou esse logro macabro? “Vi levantar-se do mar uma besta, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia.” (Apocalipse: 13-1) “Isso aqui é uma pândega!”, diz a beata viúva machadiana. “Os alunos são burros!”, diz a professora erudita. Arapongas. Magnatas encaixam o pênalti dos manuais de psiquiatria. Vultos estratificam a poeira das paixões, fazendo as diferentes sintomatologias resplandecerem na aurora. Um sopro no candelabro deixa o time asséptico perdido na imensidão da floresta. Quem é o louco aqui? É somente aí que pedem ajuda aos nômades. Retirados da areia movediça, tentam colonizá-los com a transcraniana. Distribuem benzodiazepínicos em frascos de perfume spray. Melhor é conhecer o par de montes das belas moças de um restaurante chinês e ser um plâncton marinho deslizando nas suas costas. Dançar como um passista de escola de samba nas pernas embalsamadas das ninfas e sereias. Aprender com a natureza. Existe cena mais bela do que uma flor desabrochando para o cosmo? As gargalhadas estridentes do Pequeno Príncipe. Traquejos de um espírito livre. Sou a base da cadeia alimentar de organismos maiores, e o mar me leva como uma criança no jogo de Alice. Nenhum raio cai na cabeça de um psicopata, mas eu vivo numa prisão imposta pela fúria de Titãs, condenado por ser um espírito livre. O que o Senhor tem a dizer sobre isso? O Senhor não diz nada, nada mesmo, porque ele vive dentro de nós. Vive nas nossas veias, passeia nelas com o submarino amarelo dos Beatles roubado lá mesmo, nos arredores de Liverpool. Desse modo, nossos corpos estão contaminados para toda a eternidade, pois toneladas de Zyprexa são armazenadas nos porões da embarcação sinistra. Eu até tentei falar dessas coisas para o psiquiatra remedeiro quando ele despachava do alto da colina, ou melhor, da sua coluna sifótica, ainda que só tenha uns 34, eu acho. Quem me falou outro dia foi a mulher dele, também uma remedeira que vem aqui todas as manhãs avisar que o mundo não vai acabar em 2012 porque já acabou. Pelo menos, para nós. A rameira é cínica e pícnica e diz uma chuva de besteira à luz do sol, assoviando uma canção de Nelsinho Ned, aquela do “tudo passa/tudo passará”. Eu gosto mesmo é de Alice e suas aventuras sinápticas, acrobáticas. Quando ela acorda ninguém mais dorme, todos riem muito, exceto a enfermeira do pavilhão 666, aquela
(*) Extraído do livro "Trair a psiquiatria", a ser lançado no dia 25/10/2011, em Vitória da Conquista.
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