sexta-feira, 4 de novembro de 2011

  DO LIVRO...         


O uso de  psicofármacos  é secundário  à formulação de uma hipótese    diagnóstica. Pelo menos deveria...  O  psiquiatra  considera os sintomas mais  relevantes do quadro psicopatológico. O sofrimento ou a  conduta  podem ser descritos pelo paciente como insuportáveis.  Ou   implicarem em    riscos ao paciente e em torno dele.  Há    situações  existenciais  próximas.  Desse modo o fármaco    é   a primeira  opção ,o  que se confirma na análise  da vivência.   Ela   se  dá   em função do Contexto. O contexto é uma vivência. [1]
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             Casos de emergência psiquiátrica  são exemplos típicos com indicação para  fármacos. O alvo da prescrição é o sintoma que domina a cena clínica: agitação psicomotora, mania psicótica, delírios persecutórios, tentativa de suicídio, entre outros signos. O contexto se afirma como uma vivência-limite.
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              Em casos crônicos  com  agudização,  o mesmo fármaco será mantido ou não,  a depender  da história do paciente   e  da avaliação terapêutica atual. O contexto inclui  também  linhas de rechaço sócio-familiar ao portador de transtorno mental. É preciso, pois,  estar atento a esse  dado,   e daí  contra o uso do fármaco como punição  por  “mau comportamento”.
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               Se o fármaco ataca o sintoma,  buscando eliminá-lo,  o que fazer nos casos  em que o paciente apresenta múltiplos sintomas?  Prescrever “n” remédios é   uma   opção   pouco inteligente.   A  análise da vivência adquire, então,  valor primário. Ela é a superfície existencial onde os sintomas se expõem,  espécie de muro branco, aparência. O encontro clínico se dará   como  vivência intensiva do  técnico. Um  devir.
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              Há casos de primeira consulta  sem  indicação para  o uso de fármacos. Como sabê-lo?   Haveria que abrir o campo da semiologia ao não-patológico. Significa dizer que o doente não está doente. No entanto, outra condição é mais sutil. Ele está doente   mas  o fármaco não é a primeira escolha, não vai funcionar. São os casos  em  que   a psicoterapia é  indicação exclusiva.  As forças de autoterapia [2]  são  remédios à  mão. No entanto,  tal percepção   só é possível  com a escuta  fina  saindo dos   trilhos da razão  técnica.


[1] A vivência compreende os afetos e as crenças do paciente inseridos no contexto sócio-familiar e  econômico-político-cultural.
[2]Consideramos a autoterapia como a base subjetiva da mudança psicoterápica. Não é um dado individual, mas coletivo.

Antonio Moura

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