terça-feira, 15 de novembro de 2011

QUEM SOFRE?

Apesar  das  intenções  humanitárias   da psiquiatria, a  dimensão do socius   na formação  capitalista   infiltra-se    na  realidade subjetiva, marcando-a  como  produto. O paciente  é  esse  produto e, portanto,   não  “sente”. Apenas  é  consumido. É um   dado  inscrito    no circuito delirante  do  capital.[1] Produção, registro   e  consumo.   A  produção ampliada  de modelos patológicos  desenha e  busca   identificar  novos    transtornos  mentais.Apesar  do  “produto não sentir” ,  algum  sentimento psíquico  “deve”  acompanhar  a  doença  respectiva e  registrá-la  como demanda, mesmo que  seja  a da  família.Estamos  no consumo.  Impõe-se uma necessidade  de  sofrimento por  se estar  doente.  O diagnóstico de  psicose   nivela  as  afetividades pelo  incômodo  causado  ao  Outro. Os  transtornos  mentais  são  transtornos, o  nome  o indica. A psiquiatria  dispõe   um  sistema  classificatório  dos  comportamentos em torno  do   sentimento  de  ser  doente. É um detalhe  semiótico atado ao quadro  psicopatológico de  base. Passa  pela  consciência. A avaliação  é,  antes  de tudo, a  da consciência alienada.   Sinta-se  doente, você  está  fora  dos  normais, está  fora  da  produção, fora  da  vida.Para  ser  um sujeito  você  tem que  admitir  que  está doente. O sentimento de  ser   ou   estar doente, de  ser  portador  de  um transtorno mental é  antes  produzido  pela  psiquiatria  e   suas  agências  de  apoio: família, escola, polícia, direito, estado e  a indústria  farmacêutica. Então, temos  o esquema: afetos coletivos  (desejo) =instituições= produção, registro  e consumo   de  sentimento = organismo   visível = subjetividade  individuada =consciência  de si=sofrimento (...)

Antonio Moura


[1] “Pois em verdade- a cintilante  e negra  verdade que  jaz no delírio- não  há  esferas ou circuitos relativamente independentes: a produção é  imediatamente consumo e  registro, o  registro e o consumo determinam diretamente a  produção, mas a determinam no seio da própria  produção”, Deleuze, G. e  Guattari, F.,O  anti-édipo, Rio, Imago, 1976, p.18.

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