quarta-feira, 16 de novembro de 2011


DIAGNÓSTICO

Perante a CID-10  e  o  DSM-IV, não é possível diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci  dos  códigos.    Escutei  vozes  dizendo: “ele pensa que  é  o apocalipse”. Ninguém por  perto para  testemunhar.  Abri as  janelas.  Manhã  tão bonita  manhã. No entanto, a  doutora avisou que  vai  chegar  mais  tarde. Hoje  é dia de visitas inesperadas.  Aos  que  vierem,  usem a vida  como estimulante.  No entanto, figuras empoladas  pronunciam   discursos  doutos. Nada   da  expressão  do desejo.  Nada mesmo. Que  fazer? O círculo é  estreito, a rede é fina, o controle  é  (quase)  completo. Resta  o  pensamento:   caminhar  veloz, conectar   aliados insuspeitos, brincar com o peso  do diagnóstico. Poe. A loucura não tem diagnóstico. Os  loucos circulam soltos, mesmo prisioneiros. A sociedade industrial  imprime no corpo dos seus  súditos  a marca da  psiquiatria biológica. Por isso, hoje,  escondo o segredo das  origens. Nada  de genética. A universidade não entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas   esporas  sobre  corpos previamente  dominados.  Somos  todos  inúteis úteis.

Antonio Moura

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