O ESCRITOR É NINGUÉM
Quando escrever é descobrir o interminável, o escritor que entra nessa região não se supera na direção do universal. Não caminha para um mundo mais seguro, mais belo, mais justificado, onde tudo se ordenaria segundo a claridade de um dia justo. Não descobre a bela linguagem que fala honrosamente para todos. O que fala nele é uma decorrência do fato de que de uma maneira ou de outra, já não é ele mesmo, já não é ninguém. O "Ele" que toma o lugar do "Eu", eis a solidão que sobrevêm ao escritor por intermédio da obra. "Ele" não designa o desinteresse objetivo, o desprendimento criador. "Ele" não glorifica a consciência em um outro que não eu, o impulso de uma vida humana que, no espaço imaginário da obra de arte, conservaria a liberdade de dizer "Eu". "Ele" sou eu convertido em ninguém, outrem que se torna o outro, é que, no lugar onde estou, não posso mais dirigir-me a mim e aquele que se me dirige não diga "Eu", não seja ele mesmo.
Maurice Blanchot - do livro O espaço literário
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