SOBRE A CLÍNICA DA DIFERENÇA
Voltemos à rostidade. O paciente é vestido pela moral (o eu-consciência) e pela química (o cérebro). Passa a ser um produto-organismo disponível para ser tratado, consertado, adaptado, normalizado. É o trabalho (duro) do psiquiatra na linha de frente. Há, porém, outras linhas que chamamos de devires. Elas não fabricam o paciente, mas as condições para alguém deixar de ser paciente. Tal perspectiva inclui o psiquiatra em outra concepção de doença. Destacamos: 1-O paciente não é um individuo, e sim uma multiplicidade; é irredutível ao eu e à consciência, mas plugado no coletivo. É do mundo, é o mundo. 2- Na entrevista, a sua fala chega misturada a falas não verbais (semióticas); mil falas estão presentes em uma fala. 3- A inteligibilidade do discurso está inscrita na Vivência, e não o contrário; 4- O uso prévio e exclusivo de fármacos - por aparelhos de medicar - produz um rosto-clichê que enevoa a percepção clínica; 5- Antes de “ser” um diagnóstico, o paciente é um processo afetivo; pode estar abortado, mas é um processo; 6- O delírio (se houver) e o comportamento estão submetidos ao contexto onde ele vive. Como então, funcionam essas linhas? (...)
Antonio Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário