terça-feira, 22 de novembro de 2011

O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO E A CLÍNICA DA DIFERENÇA

Fiel  às  suas  origens embrenhadas  em  relações  de  poder,  a  psiquiatria  consiste  numa  forma  social ou numa  forma  de  relação social que  se  propaga e se  institui   como subjetivação psiquiátrica. Isso atinge    intensamente a todos  os que  estão envolvidos  com a  problemática  do louco, inclusive  o próprio louco, que  passa  a  se  chamar   “psicótico”. É importante  frisar, de  acordo   com a  definição  institucional,   que  não nos  referimos   à  psiquiatria  apenas como organização visível ( o hospital) nem tampouco como dispositivo (o ato médico). Falamos   da   psiquiatria  como  uma  forma  social    tanto mais  abstrata  e  invisível quanto mais  concreta  e  incisiva  nas  suas  práticas  de  subjetivação. Pensar  psiquiatricamente, sentir  psiquiatricamente, perceber  psiquiatricamente,  agir  psiquiatricamente  etc.  Há, pois, uma subjetividade psiquiátrica  que  atravessa  segmentos  não psiquiátricos no campo da  saúde  mental, como é  o caso da   psicologia. A forma-psiquiatria se  faz   na  subjetividade  dos  que  a  ela  servem e/ou apóiam-na,   o que  a  torna difícil de   ser  captada  para  assim  ser  possível  construir modos de  pensar  e  fazer  não psiquiátricos. Isso  é   tão mais difícil na  medida em que o  diagnóstico  é  uma  prática  social conectada a  duas  outras práticas: segregar  e tratar.   São atos. Um não existe  fora  do outro e  sem o outro. Formam alianças   “naturais” , reforçando-se  mutuamente. O objetivo último divide-se em dois: o aparente, segundo o discurso humanista  da  medicina: curar, melhorar, salvar  o paciente das  garras da  doença. O  outro, talvez  inconfessável, diz  respeito  à  manutenção do status  da  psiquiatria  como especialidade  médica, e portanto, como  segmento social importante (...)

Antonio Moura - do livro Linhas da diferença em psicopatologia

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