O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO E A CLÍNICA DA DIFERENÇA
Fiel às suas origens embrenhadas em relações de poder, a psiquiatria consiste numa forma social ou numa forma de relação social que se propaga e se institui como subjetivação psiquiátrica. Isso atinge intensamente a todos os que estão envolvidos com a problemática do louco, inclusive o próprio louco, que passa a se chamar “psicótico”. É importante frisar, de acordo com a definição institucional, que não nos referimos à psiquiatria apenas como organização visível ( o hospital) nem tampouco como dispositivo (o ato médico). Falamos da psiquiatria como uma forma social tanto mais abstrata e invisível quanto mais concreta e incisiva nas suas práticas de subjetivação. Pensar psiquiatricamente, sentir psiquiatricamente, perceber psiquiatricamente, agir psiquiatricamente etc. Há, pois, uma subjetividade psiquiátrica que atravessa segmentos não psiquiátricos no campo da saúde mental, como é o caso da psicologia. A forma-psiquiatria se faz na subjetividade dos que a ela servem e/ou apóiam-na, o que a torna difícil de ser captada para assim ser possível construir modos de pensar e fazer não psiquiátricos. Isso é tão mais difícil na medida em que o diagnóstico é uma prática social conectada a duas outras práticas: segregar e tratar. São atos. Um não existe fora do outro e sem o outro. Formam alianças “naturais” , reforçando-se mutuamente. O objetivo último divide-se em dois: o aparente, segundo o discurso humanista da medicina: curar, melhorar, salvar o paciente das garras da doença. O outro, talvez inconfessável, diz respeito à manutenção do status da psiquiatria como especialidade médica, e portanto, como segmento social importante (...)
Antonio Moura - do livro Linhas da diferença em psicopatologia
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