Trabalhar com a loucura requer trabalhar com a própria loucura, de onde se extrai energias insupeitas. Isso nada tem a ver com um trabalho com o eu, com a consciência ou com a razão. Esqueça essas categorias. Elas são úteis apenas para atividades de manutenção do cotidiano banal, não para o trabalho com pacientes.É que esse trabalho só conta com a resistência do desejo para se fazer valer como diferença num universo indiferenciado - o da psiquiatria e seus congêneres. Entenda: o desejo resiste à formação do eu-técnico, da consciência- reta e da razão científica. Ele corre e escorre por linhas tortas, nuances finas, vibrações imperceptíveis, rostidades disformes, puras sensações, universos invisíveis, enfim, o que é tido como inútil para o empreendimento de controle e mortificação dos corpos que circulam fora da Ordem.
Antonio Moura
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