sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA

(...) (...) O psiquiatra biológico tem à sua  frente o “movimento”  e só  consegue  ver  a forma estática e a  matéria  sólida.  Claro, foi  treinado   para isso.  Falamos de  outra coisa, a clínica  in vivo, o trabalho com a matéria invisível, o meio  do qual o paciente faz parte, a ausência de coordenadas  espaço-temporais estáveis. O  eu é uma delas. Quem  você é ?  Isso  vale para  o psiquiatra  seguro  da (sua)  verdade. No entanto, a  incerteza do eu e das crenças básicas precede o  Encontro. Não  há  clichês. O paciente não tem forma. Seu desejo  não tem forma.  Ele age  como produção de universos móveis. Isso é difícil de aceitar. Como encontrar o paciente pela via da multiplicidade? Como acessá-lo de um modo diferente do da psiquiatria biológica e farmacológica? Parece quase impossível ou talvez algo delirante para os que estão presos à   grade da CID-10. Encontrar o paciente é encontrar  a si  mesmo. Esta seria uma  fórmula estéril  se  estivesse atada  à visão  do eu como  interioridade  psíquica. Contudo, trata-se de  outra  coisa.  Buscamos  sair de nós mediante uma exposição  aos  signos  do  mundo. “Você traz  novidades que me fazem ser diferente”. É  uma base  para  o tratamento, são potências a serem  descobertas no paciente e no psiquiatra. O paciente, apesar de codificado pela  psiquiatria, funciona  em  linhas  da   diferença  que vazam. A  forma  dada,  estática,  no fim  das contas, é  efeito do poder  médico. Isso dificulta uma prática em direção a expressões  novas. Sendo assim,  o exame da mente para encontrar a mente terá que se transformar numa produção/intuição de multiplicidades. Não  mais haveria   exame  mental  porque  a “mente” não  é  algo  visível. E o que  seria  examinado  (ou  encontrado)?
(...)
A.M.

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