sexta-feira, 3 de junho de 2016

DEMASIADO HUMANO

(...) (...) Ao que me parece, o PMDB compreendeu que o eixo do poder se deslocou e tratou de arrastá-lo de novo para sua posição original.
E recolocou, em outro nível, a pergunta tradicional: Quem fala com quem? Era preciso cativar os juízes do Supremo, seduzir os grandes órgãos da imprensa, só assim o poder se reinstalaria em Brasília e o País voltaria à normalidade. Tentativa também fracassada.
Um elemento interessante nessa luta permanente para recuperar o eixo do poder é a maneira como Lula, Sarney e o próprio Machado encaram o silêncio de alguns e o apoio popular à Lava Jato. Em vários momentos, usam a palavra covardia, lamentam que o avanço das forças de Curitiba não seja combatido por uma resistência nacional. Era como se os invasores fossem tomando o País e, ao invés de pedras e bomba, ganhassem aplausos e flores.
O velho Sarney sabe que nem tudo terminou e prevê um assalto final com a “metralhadora ponto 100”: a delação de Marcelo Odebrecht e dos executivos de sua empresa.
Quase nada ficará de pé. Neste momento, denunciar e punir talvez não tenham mais a urgência dos tempos que se encerram. Definidas as responsabilidades individuais, será possível explorar o campo do sistema político em que tudo aconteceu, e a fantástica reação humana diante de um mundo que desmorona.
Faltam ainda dezenas de gravações, depoimentos, acareações. Se o tempo permitir, voltarei a elas com uma curiosidade diferente. Não mais saber quem vai ou não ser preso.
O universo político brasileiro sofreu o impacto semelhante ao dos asteroides que destruíram os dinossauros. Mas como é diferente quando se trata da história humana. Os dinossauros não tiveram escolha, não buscaram o contato desesperado entre si, não delataram nem gravaram escondidos as conversas mais reservadas. Políticos são humanos. Muito humanos.

Fernando Gabeira, 03/06/2016

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