quarta-feira, 31 de agosto de 2016

PETISMO: DOENÇA E CRIME

Ao longo de todos estes anos no poder, o PT tornou-se um partido igualzinho aos demais. Um mesmo modo de fazer política, uma mesma ética (a do capital), tudo lastreado nas regras da democracia representativa (burguesa). Assim, mesmo aplicando o autoritarismo ideológico, o fisiologismo, o clientelismo, o desprezo pelas vozes dissonantes da sociedade civil (as diferenças), e principalmente o gozo perverso extraído da corrupção sistêmica, ainda assim PERDEU. Essencialmente, o impeachment foi um golpe da direita sobre a direita, sim, um soco político desferido mediante os códigos que o próprio PT utilizou. Nada demais, nada surpreendente, tudo dentro das normas institucionais e constitucionais. Afinal, há muito tempo o PT tornou-se uma esquerda cadavérica exalando seu mau cheiro na formação de subjetividades imbecilizadas e dominadas: trata-se do petismo I como doença psicossocial ou do petismo II como crime. O segundo se alimenta do primeiro para o controle (inconsciente) dos seus fiéis.

A.M.
 DEUS TRISTE

 Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.


Carlos Drummond de Andrade

DEPOIS DO SENADO, TEVE BALADA!


JOGOS DO PODER
(..)
Especializada numa modalidade pessoal de esporte, o tiro ao pé, Dilma inaugurou um novo sistema de governo: o presidencialismo sem presidente. Como poder vazio é algo que não existe, Eduardo Cunha ocupou os espaços. E a pupila de Lula foi apresentada a uma fatalidade histórica: no Brasil pós-redemocratização, sempre que um presidente achou que poderia engolir o PMDB, foi mastigado.

Quando joga a favor, a legenda fornece estabilidade congressual. Contra, vira uma força desestabilizadora. Temer virou presidente interino. Mercadante foi ao olho da rua. Kassab traiu Dilma, demitiu-se do ministério, jogou o seu PSD na trincheira do impeachment e voltou à Esplanada sob Temer. Cid Gomes virou pó bem antes, em março de 2015, numa queda de braço com Eduardo Cunha.

Lula tentou pacificar o PMDB. Mas Mercadante dinamitou a iniciativa. Aconselhada por seu padrinho politico, Dilma terceirizou a coordenação política do seu governo a Temer. Entretanto, esquerceu de retirar Mercadante do caminho do vice (ou lembrou de mantê-lo como estorvo). Temer deu por encerrada sua missão, endereçou uma carta desaforada a Dilma e trancou-se em seus rancores.
(...)
Do Blog do Josias de Souza, 31/08/2016,05:04 hs

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Não entendo o porque das pessoas pensarem sempre no pior e não no mais provável que é pior ainda.

George Carlin

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

NADA É PARA SEMPRE

Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja.
Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia.
Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre".
(...)
Gabriel García Márquez

ARNALDO ANTUNES - Contato Imediato


domingo, 28 de agosto de 2016

MELOU

Nos seus áureos tempos de oposição, o PT grudou em Geraldo Brindeiro, procurador-geral da Era FHC, o apelido tóxico de “engavetador-geral da República”. Ao anular a delação de Léo Pinheiro, da OAS, o procurador-geral Rodrigo Janot teve o seu momento de Brindeiro. Deixou no ar uma dúvida incômoda: por que resolveu cometer velhos erros se há tantos erros novos a cometer? Ou Janot abre a gaveta ou acabará provando que é errando que se aprende. A errar!

Faltou nexo à justificativa de Janot. Irritou-se com a notícia de que a delação da OAS incluiria um capítulo sobre Dias Tóffoli, o ministro do Supremo Tribunal Federal. Tachou a informação de inverídica, chamou o vazamento de “estelionato delacional” e deu por encerrada a negociação com Léo Pinheiro. Ora, francamente! Nada mais comum na Lava Jato do que os vazamentos. E Janot resolve rodar a baiana por conta de uma goteira que expeliu o que diz ser uma inverdade?!?

A decisão de Janot tornou-se ainda mais incompreensível diante da revelação dos segredos que o barão da OAS já compartilhou com a Procuradoria. Por exemplo: é mesmo de Lula o tríplex que ele jura não possuir no Guarujá. O imóvel e a reforma feita nele saíram das petropropinas destinadas ao PT. A empreiteira borrifou verbas sujas no caixa da reeleição de Dilma. Os grão-tucanos Aécio Neves e José Serra estão na lista de beneficiários de propinas. Delação, como se sabe, não é prova. Mas a obrigação do procurador-geral é procurar.

Num dos grampos que o doutor Sérgio Moro jogou no ventilador há cinco meses, Lula soa na fita questionando o advogado-companheiro Sigmaringa Seixas, de Brasília, sobre uma demanda que deveria ser encaminhada a Rodrigo Janot. Sigmaringa sugeriu a via institucional de uma petição. Lula queria saltar a “formalidade”. Sigmaringa alertou: “Ele vai dizer não, ele não vai receber.” E Lula: “Essa é a gratidão. Essa é a gratidão dele [Janot] por ele ser procurador…”

O pior pecado que um procurador-geral da República pode cometer é o de passar à sociedade a impressão de que é agradece com a caneta ao poderoso que o indicou para o cargo. Gente na posição de Janot não deve gratidão senão ao contribuinte, que lhe paga os vencimentos. E tudo o que esses brasileiros desejam é que o procurador Janot procure. E não esconda o que já foi encontrado.

Do Blog do Josas de Souza,28/08/2016, 05:58 hs

PSIQUIATRIA BIOLÓGICA


OUTRORA E HOJE

Meu dia outrora principiava alegre;
No entanto à noite eu chorava. Hoje, 
                                            [ mais velho, 
Nascem-me em dúvida os dias, mas
Findam sagrada, serenamente.


EHMALS UND JETZT

In jüngern Tagen war ich des Morgens froh,
Des Abends weint ich; jetzt, da ich älter bin,
Beginn ich zweifelnd meinen Tag, doch
Heilig und heiter ist mir sein Ende.


F. Holderlin
Tradução de Manuel Bandeira
                             

DA SÉRIE: O BRASILEIRO É CORDIAL!


OUTRAS AMPLIDÕES
(...)
Se o desejo é recalcado, não é por ser desejo da mãe e da morte do pai; ao contrário, ele só devém isso porque é recalcado e só aparece com essa máscara sob o recalcamento que a modela e nele a coloca. Aliás, pode-se duvidar que o incesto seja um verdadeiro obstáculo à instauração da sociedade, como dizem os partidários de uma concepção de sociedade baseada na troca. Vê-se cada coisa... O verdadeiro perigo não é este. Se o desejo é recalcado é porque toda posição de desejo, por menor que seja, pode pôr em questão a ordem estabelecida de uma sociedade: não que o desejo seja a-social, ao contrário. Mas ele é perturbador; não há posição de máquina desejante que não leve setores sociais inteiros a explodir. Apesar do que pensam certos revolucionários, o desejo é, na sua essência, revolucionário — o desejo, não a festa! — e nenhuma sociedade pode suportar uma posição de desejo verdadeiro sem que suas estruturas de exploração, de sujeição e de hierarquia sejam comprometidas. Se uma sociedade se confunde com essas estruturas (hipótese divertida), então, sim, o desejo a ameaça essencialmente. Portanto, é de importância vital para uma sociedade reprimir o desejo, e mesmo achar algo melhor do que a repressão, para que até a repressão, a hierarquia, a exploração e a sujeição sejam desejadas. É lastimável ter de dizer coisas tão rudimentares: o desejo não ameaça a sociedade por ser desejo de fazer sexo com a mãe, mas por ser revolucionário. E isto não quer dizer que o desejo seja distinto da sexualidade, mas que a sexualidade e o amor não dormem no quarto de Édipo; eles sonham, sobretudo, com outras amplidões e fazem passar estranhos fluxos que não se deixam estocar numa ordem estabelecida. O desejo não “quer” a revolução, ele é revolucionário por si mesmo, e como que involuntariamente, só por querer aquilo que quer.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in O Anti-édipo
Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar,um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
(...)
Mia Couto

GEORGE CARLIN: "Eu não voto"


ESTADO TERMINAL

O julgamento da presidente Dilma Rousseff já não tem a menor importância, em si, para os petistas que a defendem no Senado. Por se tratar de um processo essencialmente político, as favas já estão para lá de contadas. Portanto, os senadores do PT estão ali com o único objetivo de encenar a “paixão de Dilma”: diante das câmeras de documentaristas simpáticos à causa lulopetista, encarregados de registrar os estertores de Dilma na Presidência, esses histriões querem converter o julgamento em um dramalhão épico, numa tentativa de ditar a história deste triste período.
Pode-se imaginar que o roteiro cinematográfico do “martírio” de Dilma preveja como clímax a presença da presidente no Senado para se defender, amanhã. Consta que a petista trará uma comitiva de três dezenas de pessoas, entre as quais vários correligionários que foram seus ministros, que certamente se comportarão, diante das câmeras, como devotados apóstolos. E há ainda uma chance de ver Lula da Silva, a prima-dona da companhia, que planeja aparecer no Senado para testemunhar o calvário de sua criatura. Como Lula jamais será coadjuvante, em especial quando contracena com a inexpressiva Dilma, pode-se deduzir que sua intenção seja roubar a cena – é ele, afinal, quem julga ter um legado e uma história a defender, ao passo que Dilma, todos sabem, é apenas um pedaço de sua costela.
Todos esses atores, portanto, estão a desempenhar o papel que não lhes cabe: o de vítimas. Como Lula e grande elenco jamais admitiram responsabilidade pelos grosseiros erros dos governos petistas, muito menos pela corrupção sistêmica que carcomeu o Congresso e a administração pública nos últimos dez anos, qualquer acusação de roubalheira ou de irresponsabilidade só pode ser interpretada como campanha anti-PT.
(...)
Estadão, (Editorial) 28/08/2016,03:00 hs

sábado, 27 de agosto de 2016

NELSON FARIA & CELSO FONSECA - Breezin`


CONFISSÃO

Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.


Carlos Drummond de Andrade
OS ASTROS IMPÕEM

Quando Dilma Rousseff colocar os pés no Senado na segunda-feira 29, ela usará de todas as estratégias para a defesa do seu mandato, por ora suspenso. Com eloquência pregará a tese de inocência, mas não será tarefa fácil.

No campo político, para muitos, o jogo está definido. Ao contrário do que afirmou Michel Temer em sua primeira reunião ministerial em maio, na quinta-feira 25 vários retratos de Dilma foram retirados das paredes do Palácio do Planalto, sobretudo no 3º e 4º andares, onde funcionam a Presidência da República, a Casa Civil e a Secretaria Geral de Governo.

Olhando para os astros, o momento também é pobre para a petista. Nativa de Sagitário (14/12/47) pisará no Congresso no dia em que a Lua Minguante em Leão estará entrando em conjunção a Saturno e Plutão. Segundo a astróloga Susie Verde, a quem a Coluna pediu um estudo a respeito dos acontecimentos celestiais que cercam Dilma, “tudo indica o final de um ciclo”.

De seu consultório nos EUA, explica: “estamos em uma fase chamada de sombra de Mercúrio retrógado, o que sugere muita confusão no ar. Não será decisão fácil e haverá muita discussão. A presidente afastada conta com o apoio do seu bloco, de que poderá suportar o grave momento. Porém, está fragilizada e sob forte tensão. Tudo indica que este processo poderá ser mais difícil do que se imagina, na medida em que o jogo se desenrola”.

Além do mais, diz Susie, no dia 1º de setembro, “e já com influência agora”, haverá um eclipse de Lua Nova perto de Marte, em sua casa 12. “Dilma Rousseff deverá sofrer um golpe de seus inimigos. As traições significativas virão em função de grandes interesses políticos”.

Em outras palavras, por mais que a presidenta afastada se esforce, tanto na terra quanto no céu, parece tudo caminhar para a sua saída definitiva do cargo.

Se Dilma vai virar uma estrela um dia na história política do País, ninguém sabe, mas a que traz no peito, a do PT, já perdeu o brilho. Independente de ser – como parece – condenada no julgamento do Senado.

Ricardo Boechat, Isro É, 26/08/2016, 18:30 hs

EMIL NOLDE


TODOS JOGAM FUTEBOL

O futebol,  esporte-maior pelo altíssimo grau de imprevisibilidade dos resultados, sofre os efeitos da modernidade tecnológica. Talvez o principal seja o da escassez do chamado craque. Podemos chamá-lo de artista da bola, ou o que cria. Trata-se de uma questão estética. A seleção brasileira de 82 é um caso emblemático. Não ganhou a Copa, mas deixou a marca da criatividade e da alegria de tocar de "prima", de calcanhar, driblar, enfiar uma "caneta", lançar no vazio, cabecear, simplesmente fazer gols (foram 15 em 4 jogos), enfim, construir obras de arte. No entanto, evitando um saudosismo romântico e estéril, é possível ver no futebol atual (brasileiro e estrangeiro) o aumento do acesso de muitos jovens ao aprendizado da bola. Mais times, mais países na Cena Verde. Tal fenômeno, junto ao progresso da medicina esportiva, da fisioterapia, da educação física, e até da psicologia esportiva, fazem do futebol algo cada vez mais voltado ao apogeu tecnológico. Isso nos parece irreversível. Desse modo, mais que nunca é necessária a garimpagem fina pelos chamados olheiros (profissionais ou não)  do jogador verdadeiramente talentoso, aquele que faz a diferença, ou, como se diz no jargão futebolístico, o que desequilibra... Então, por onde anda o ARTISTA? Não é toda hora ou em qualquer lugar que aparece um Messi, por exemplo. Como identificá-lo?

A.M.

GRANDES ESCRITOS


VOCÊ PAGA A CONTA

(...)
O Parlamento ainda é o melhor entreposto que a sociedade civilizada encontrou para dissolver seus conflitos de forma pacífica. Nesse universo, vigora a máxima segundo a qual as regras são menos perigosas do que a imaginação. A tática protelatória dos partidários de Dilma não orna com o regimento nem com o rito que havia sido negociado com o presidente do STF. A reação dos defensores da guilhotina não encontra amparo na inteligência. Apressados, caem em todas as armadilhas montadas pela turma da protelação.

A essa altura, a plateia deseja que seja feita a contagem dos votos. A truculência e as garrafadas não ornam com o ambiente político de uma Casa que traz o busto de Rui Barbosa exposto em posição de destaque, acima da mesa diretora. A sessão foi retomada depois do almoço com a promessa de que os coldres serão deixados do lado de fora do plenário. O excesso de eletricidade ainda é perceptível. Resta ao contribuinte, que financia o espetáculo, torcer. Até porque a coisa custa caro.

Afora toda a crise, a quebradeira de empresas e os 12 milhões de desempregados, há os salários dos 82 atores (Lewandowski, mais 81 senadores), a despesa com transporte e hospedagem das oito testemunhas, o custo do palco, da iluminação, do som, do cafezinho e da TV para transmitir. Não é só: você financia toda a estrutura oferecida aos julgadores para se preparar —o gabinete, os assessores, a casa, a comida, a roupa lavada, o computador, o papel e a tinta da impressora. O mínimo que você pode exigir é celeridade e respeito. Quem quiser brigar, que se pegue na rua. Ou num boteco.

Do Blog do Josias de Souza, 25/08/2016, 15:22 hs

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

...

Se têm a verdade, guardem-a!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?


Fernando Pessoa

CAFE SOCIETY, de Woody Allen, 2016


QUAL GOLPE?

O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira reafirmou nesta quinta-feira que a presidente afastada Dilma Rousseff  tinha “conhecimento, direção e comando” sobre os atos pelos quais é processada no Senado por violação da Lei de Responsabilidade Fiscal. A fala do procurador ocorre na primeira etapa do julgamento final do impeachment, que deve se estender até a próxima semana.

Oliveira é ouvido na condição de informante e não de testemunha de acusação. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, atendeu ao argumento do advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, de que Oliveira é o “autor intelectual” do pedido de impeachment e que se reuniu com autores do processo.

“É impossível afirmar que a presidente não tivesse conhecimento desse problema grave que estava acontecendo em sua administração”, afirmou ele. Questionado por senadores aliados e opositores da petista, ele voltou reforçar que Dilma teve culpa nos atos. “O dolo grita nos autos. Se a presidente da República não tiver responsabilidade sobre decretos e medidas provisórias, porque foi elaborado pela sua equipe, ela não vai ter responsabilidade sobre nada. Essa é uma tese da irresponsabilidade do governante. A minha convicção é de que há dolo”, completou. 

O procurador, indicado pela acusação, foi autor do parecer do TCU que serviu de base para a reprovação das contas presidenciais de 2014. Segundo ele, as práticas da abertura de créditos suplementares via decreto presidencial, sem autorização do Congresso Nacional, e as chamadas pedaladas fiscais continuaram a ser adotadas em 2015. Na condição de informante, tudo o que Oliveira falar não valerá como prova no processo.
(...)

Veja.com, 25/08/2016, 22:39 hs

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

CARLA BLEY - Lawns


amor  ao  amar
quem deseja
acontece


A.M.
SINCERAMENTE

(...)
Mas eu quero que você aprenda uma coisa, estou sendo sincero, EU QUERO que você saiba de uma coisa, em relação a acreditar em Deus, eu tentei, realmente tentei, tentei mesmo. Eu tentei acreditar que existe um Deus, que criou cada um de nós a sua imagem e semelhança, ama cada um de nós e fica observando tudo 24 horas, eu realmente tentei acreditar nisso, mas eu preciso ser sincero, quanto mais você vive, mais você olha em volta e mais você se dá conta... tem alguma coisa errada.

Tem alguma coisa errada aqui. Guerra, doenças, mortes, destruição, fome, sujeira, pobreza, torturas, crimes, corrupção e até a porra da camada de ozônio. Definitivamente tem alguma coisa errada. Isso não é um bom trabalho. Se isso é o melhor que um Deus pode fazer, eu não estou impressionado. Resultados como esse não devem pertencer a um currículo de um ser supremo. Isso é o tipo de trabalho que você espera de um estagiário de uma agência de publicidade.

George Carlin
MAIS VIOLÊNCIA

O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking dos países que mais matam com armas de fogo, de acordo com o Mapa da Violência 2016, divulgado nesta quinta-feira (25). O levantamento da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) afirma que o país teve 44.861 mortes dessa modalidade em 2014, um pouco mais que os acidentes de trânsito (44.823) e quatro vezes mais que as mortes em decorrência da aids (12.534). 
A taxa média nacional de mortalidade por arma de fogo – medida a cada 100 mil habitantes – vem crescendo ao longo dos anos. Em 1980, era de 7,3. Em 2003, ano anterior à entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, de 22,2. Em 2014, ficou em 22,4. A Região Nordeste é a mais violenta. Segundo o levantamento, Alagoas lidera os estados que mais matam por arma de fogo no Brasil, com uma taxa de 56,1 homicídios por 100 mil habitantes. A cidade alagoana de Murici, berço político do presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, amarga a triste média de 100,7 homicídios por arma de fogo por 100 mil habitantes – só perde para a baiana Mata de São João, recordista com 102,9 homicídios do tipo por grupo de 100 mil habitantes.
(...)
Helena Fonseca, Época, 25/08/2016,20:03 hs

TZVIATKO KINCHEV


QUEIMA DE ARQUIVO

Houve um tempo em que eu amava
em cada corpo o reflexo
do que eu queria ter sido.
No fundo do sexo eu buscava
o meu desejo perdido.

Acabei achando o outro
que em mim mesmo destruí.
Foi fácil reconhecê-lo:
de tudo que vi em seu rosto
somente o ódio era belo.

Esse morto adolescente
implacável e virginal
não me perdoa a desfeita.
Não faz mal. Eu sigo em frente.
Nem tudo que fui se aproveita. 


Paulo Henriques Britto

GRANDES ESCRITOS


TEMPO REAL E VELOCIDADE DA LUZ

O tempo mundial e o presente único, que substituem o passado e o futuro, estão ligados a uma velocidade limite que é a velocidade da luz. Nós acabamos de chocar com a barreira do tempo real, isto é a barreira da luz. Foi porque recorremos à luz, e portanto à sua velocidade, que esta liquidação do espaço-mundo e do tempo histórico é possível. Nós recorremos a uma constante cosmológica – trezentos mil quilômetros por segundo – que representa o tempo de uma história sem história e de um planeta sem planeta, de uma Terra reduzida à imediatidade, à instantaneidade e à ubiqüidade, e de um tempo reduzido ao tempo, isto é, ao que se passa instantaneamente. É uma liquidação e um extermínio do espaço-mundo – um planeta relativo, local – e de um tempo – o tempo dos homens – em benefício de um outro espaço e de um outro tempo. Não é um acontecimento apocalíptico mas cataclísmico da ordem do tempo.
(...)
Paul Virilio
Ter fé é dançar na beira do abismo.

Friedrich Nietzsche

PHILIP GLASS & THE KRONOS QUARTET - Dracula


Pensando bem, a religião nunca viu problemas em matar pessoas. Mais gente morreu em nome de Deus do que por outro motivo. Depende de quem manda e de quem morre!

George Carlin
NORDESTE VIOLENTO

O Nordeste concentra as cidades mais violentas do país. Com o surgimento de novos polos econômicos nas últimas décadas, a região precisou lidar com uma onda de criminalidade para qual não estava preparada. O resultado é que, hoje, dos 150 municípios com as maiores taxas de homicídio por arma de fogo no Brasil, 107 ficam no Nordeste – dois a cada três. No ranking de capitais, as seis primeiras colocadas também são da região.
(...)
Veja.com., 25/08/2016, 09:03 hs
AMOR – POIS QUE É PALAVRA ESSENCIAL

Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

ANDRE KOHN


NA ESPREITA

Não demonizar a psiquiatria. Não desenvolver com ela uma relação persecutória. Pensar: não estamos contra a psiquiatria: a psiquiatria é que está contra nós, os tortos, os malditos, os sem consciência, os sem diagnóstico, os diferentes. Verificar: ela é que está a favor de si mesma, um sistema político-institucional fechado, conservador e autoritário. Não fazer uma crítica acadêmica, bem comportada, piedosa, reativa, ressentida. Não se dobrar ao poder psiquiátrico, não reverenciá-lo, nem tampouco reproduzi-lo. Não personalizar a  devastação crítica, não focá-la na pessoa do psiquiatra. Pessoas são boas pessoas. Não considerar intenções, intencionalidades, altruismos, assistencialismos, religiosidades científicas. Elas podem ser boas, mas seus efeitos abomináveis. Não cair no jogo das identidades profissionais. Evadir-se, portanto, do corporativismo profissional. Orgulho de ser psiquiatra não sendo psiquiatra. Trabalhar com os paradoxos da linguagem, ó Lewis Carrol! Não se nivelar éticamente, políticamente, estéticamente, epistemologicamente, clinicamente, à psiquiatria.  Não falar mal dela, não comentar nem mesmo sobre a  sua  monumental ignorância teórica. Sobretudo, não atacá-la, mesmo que ela esteja atacando a Vida, tamponando seus devires e intoxicando suas veias.
Temos mais o que fazer, na verdade, tudo.

A. M.


P.S. - Texto revisado e ampliado.

DA SÉRIE: O BRASILEIRO É CORDIAL


terça-feira, 23 de agosto de 2016

DOMÍNIO

'Pensai', escreve o sr. Clyde Miller, admirado, 'pensai no que pode apresentar de lucros para a vossa firma se conseguirdes aliciar um milhão, ou dez milhões de crianças, que se tornarão adultos treinados para a aquisição dos vossos produtos, como os soldados são antecipadamente treinados para avançar quando ouvem as palavras-estímulo: Em frente, marche!'
(...)
Aldous Huxley in O Admirável Mundo Novo

LEILA PINHEIRO - Coisas do Brasil


MÚSICA SURDA

Como num louco mar, tudo naufraga.
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.

O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.

Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.


Dante Milano

DESEMPREGO


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

... poesia pra mim é a loucura das palavras, é o delírio verbal, a ressonância das letras e o ilogismo. Sempre achei que atrás da voz dos poetas moram crianças, bêbados, psicóticos. Sem eles a linguagem seria mesmal. (...) Prefiro escrever o desanormal.

Manoel de Barros

domingo, 21 de agosto de 2016

SER-MULHER

Cinco mulheres foram assassinadas durante este final de semana no Rio Grande do Norte. Em Natal, São José de Mipibu, Parnamirim e São João do Sabugi, as vítimas foram mortas na madrugada deste domingo (21). Na região Oeste, uma doméstica que havia sido baleada na quarta-feira (17) em Governador Dix-Sept Rosado não resistiu aos ferimentos e morreu na madrugada do sábado (20) no Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró.
Com mais estes cinco casos, chega a 11 o número de mulheres mortas nos últimos onze dias no estado. A maioria, vítima de feminicídio – que é quando uma pessoa é morta pela condição de ser do sexo feminino.
(...)
Anderson Barbosa, do G1, RN, 21/08/2016, 13:29 hs
VIAGENS DE MIGUEL

Entre os meus mestres está Miguel. É dos maiores. Tento acompanhar suas andanças. Miguel é rápido, lépido, escorregadio, viaja no mesmo lugar por distâncias que não alcanço. Alimenta-se de intensidades. Escapa sempre das armadilhas do eu, faz birra, faz birra da birra, embaralha os códigos."Espere um pouco, Miguel" e ele me sorri como a dizer "Problema seu..." Mas insisto nessas viagens, sou um seguidor para onde ele vai, por onde vai. Há afetos velozes e simples: "Não gosto de você " ou "Vem aqui, fique comigo". Há uma linha entre extremos. Miguel brinca com a água e com ela se confunde num vai e vem indecifrável e positivo. "Está com frio, Miguel?" Não, o calor não vem de fora, ué, porque ele é o próprio calor como superfície intensiva do viver, talvez ele dissesse. Aos 5 anos e pouco, Miguel encarna a Vida em sua expressão mais direta e mais lírica. O que costumo dizer a ele é muito pouco, muito adulto, muito racional diante de tanta alegria gratuita. Será que eu aprendo?

A.M.

GEORGI PETROV


E AGORA?
(...)
E nós caímos na vida cotidiana, que para muitos é tão difícil e arriscada como uma Olimpíada. Depois de uma certa idade, então, cada corrida, cada salto, cada longa caminhada é celebrada como um recorde. Mas o mais importante é perceber que começou de novo o jogo cotidiano. Vamos ter os forças federais até quando? Se ficarem, o que fazer para assegurar que sua saída não cause danos? Há um problema adicional que poucos notaram: a campanha eleitoral começou. Não vi ainda candidatos no meu caminho. Mas sei que existem e que, daqui a pouco, sorridentes e com as mãos estendidas, virão propor soluções fáceis para os intrincados problemas de sempre. Antes da operação Lava-Jato, as campanhas já pareciam irreais. Agora, depois de tudo revelado, a distância entre o discurso dos políticos e a realidade das pessoas deve provocar inúmeros curto-circuitos.
Não se trata apenas de uma operação que desvendou os meandros da organização criminosa no poder. Em 2013, as pessoas já pressionavam por serviços públicos decentes; em 2015, pelo impeachment de Dilma. Em termos puramente subjetivos, o Brasil mudou muito nos últimos anos. A Olimpíada foi produto de um delírio do passado, realizado com os pés no chão na aspereza do presente. Como disse o técnico francês ao “Le Monde”, o Brasil é um país estranho, mágico. Vivo nele há muitas décadas para saber que por baixo da cortina de exotismo alguns problemas sobrevivem a todos os orixás, santos e pajés. Quando ouvi um locutor satisfeito porque o lixo da Baía de Guanabara foi para o fundo, num dia de regata, pensei: se apenas os estrangeiros acreditassem na magia brasileira, seria mais fácil.
É tempo de eleições, e os mágicos virão com todos os truques, lenços desaparecem, coelhos saem da cartola. Os políticos não inventaram o Brasil. Apenas exploram alguns pontos fracos.

Fernando Gabeira,21/08/2016

PHILIP GLASS - The Secret Agent


SEM FIM

ANCARA — O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atribuiu ao Estado Islâmico (EI) o atentado suicida que matou pelo menos 51 pessoas e feriu outras 69 ontem na cidade de Gaziantep, no Sul da Turquia. Segundo o presidente, um adolescente entre 12 e 14 anos se explodiu no meio de pessoas que dançavam na rua, em uma festa de casamento, segundo o governo. Este é o ataque a bomba com maior número de vítimas fatais durante este ano no país, que enfrenta ameaças de combatentes em seu território e nas suas fronteiras com a Síria.
(...)
O Globo, 21/08/2016, 11:39 hs


Tenho absoluta incapacidade de admirar um homem apenas porque ele é melhor do que o outro um centésimo de segundo.

Millôr Fernandes
FAZER A DIFERENÇA


A psicoterapia é um serviço típico dos meios urbanos do capitalismo industrial avançado. Está inscrita no circuito da produção ad aeternum de mercadorias e atrelado ao consumo automatizado. Antes de tudo, carrega o fetiche da mercadoria a ser consumida. Não se trata de invalidá-la como ato de ajuda ou recurso terapêutico.  A questão é outra.  É comum ocorrer a profissionais de tal mister uma espécie de miopia teórica da concepção trágica do fato subjetivo, em prol de um humanismo salvacionista ou de um tecnicismo científico ao modo, por exemplo, das terapias cognitivo-comportamentais. Ajudar aquele que sofre por/para viver, muito digno. Se isso vem colado a uma visão a-histórica da subjetividade, estamos diante de um psico-remédio (?!) para os males da alma, buraco metafísico do qual ninguém escapa. Ora, não há "remédio" para a existência; tal “buraco metafísico” é produzido por relações sociais onde o desejo produz a anti-produção. Tudo é produção. Apesar disso, é possível criar linhas da diferença em terapia, na medida em que se abra a subjetivações outras, sem os códigos sociais aprisionadores do corpo-paciente. Novas semióticas... Agenciar uma psicoterapia “libertadora”? Talvez, um pouco, ou quase nada, ou nada, lembrando que “libertação” é uma palavra cheia de dobras e armadilhas semânticas e políticas.  Outro modo, um estilo: incluir a desordem nas práticas clínicas, usando-a como rearranjo de potências subjetivas até então adormecidas.

A.M.


P.S. - texto revisado e ampliado

OURO NA MÃO


O GOSTO DA LUTA

A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.
(...)
Aldous Huxley

sábado, 20 de agosto de 2016

SEM FUTURO

Cantado em verso e prosa pelo marketing petista como a solução para todos os problemas na Educação, uma das áreas primordiais para o futuro do País, o Pátria Educadora virou o símbolo de um desastre administrativo. Não bastassem os sucessivos cortes no setor, anunciados por Dilma, e as falhas no programa de financiamento estudantil, destinado a jovens, agora se sabe que a política pública lançada para ser o carro-chefe do segundo mandato da presidente afastada fracassou naquilo que deveria ser a matéria-prima do seu trabalho. Um levantamento realizado pelo Ministério da Educação mostra um alarmante aumento no índice de analfabetismo entre jovens de 15 a 29 anos em seis Estados brasileiros, desde 2013. Foi o primeiro registro dessa natureza em décadas. Nas palavras da secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães, os integrantes desse grupo são uma “geração perdida”. Parte dela, inclusive, concentra mães e chefes de família beneficiadas pelo Bolsa Família.
(...)
Mel Bleil Galo, Isto É, 19/08/2016,18:54 hs
BREVE HISTÓRIA DA BURGUESIA

Este foi o momento, quando nós,
sem nos apercebermos, durante cinco minutos
estávamos imensamente ricos, generosamente
refrigerados com a eletricidade no verão,
ou caso fosse o inverno,
a lenha, trazida de longe via aérea, ardia
em lareiras estilo renascentista. Curioso:
havia tudo, vindo por avião,
de certa maneira automaticamente. Elegantes
éramos, ninguém nos aturava.
Jogávamos pelas janelas concertos de solistas,
chips, orquídeas embrulhadas em celofane. Nuvens
que diziam: “Eu”. Únicos!

Íamos a todas as partes em vôos de carreira. Mesmo os nossos suspiros
eram pagos com cartões de crédito. Xingávamos
como gralhas, todos ao mesmo tempo. Cada um
guardava a sua própria desgraça debaixo do assento,
à mão. Que pena!
Era tão prático. A água
corria à toa das torneiras.
Lembram-se? Simplesmente atordoados
por nossos sentimentos minúsculos
comíamos pouco. Se soubéssemos
que tudo passaria
em cinco minutos, teríamos saboreado
bem mais, muito mais, o roast-beef Wellington.


Hans Magnus Enzensberg
Tradução de Kusrt Scharf e Armindo Trevisan
WOODY ALLEN FALA

Encontrou um sentido para a vida, questão sempre abordada em seus filmes?

Não. E sei que nunca vou encontrar. Não há sentido nenhum na vida. Estamos aqui por um acidente da natureza, já que o universo simplesmente tomou forma, como uma ação espontânea. Vivemos e morremos. É só isso. Ninguém gosta de pensar nisso, mas eventualmente tudo vai acabar: toda a forma de existência, o sistema solar, as estrelas, os planetas, o tempo e o espaço.
(...)
Entrevista - Elaine Guerini, Isto É, 19/08/2016
BELEZA, BUK

A beleza não existe, especialmente num rosto humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado, matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito, se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.
(...)
Charles Bukowski

ALEXI ZAITSEV


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A ESTUPIDEZ EM SUA PERFEIÇÃO

Se um homem é campeão olímpico e tudo o que se diz dele em plena Olimpíada é que é um mentiroso, esse sujeito está livre de todas as imputações pelo que faz na vida. Ryan Lothte, por estúpido, é o seu próprio castigo.

Nesta sexta-feira, desmascarado pela polícia e ameaçado pelos patrocinadores, Lothte pediu desculpas pelo assalto mentiroso no Rio de Janeiro. Fez isso à sua maneira. Culpou o idioma, não a si próprio.

Todos os defeitos de Lothte estão perdoados e seus crimes prescritos. Prevalece o entendimento tácito de que ser tão estúpido já é castigo suficiente. Deve-se levar em conta que Lothte está condenado ao convívio perpétuo com sua parvoíce.

Lothte deve estar arrependido. Não de sua mentira criminosa, pois os tolos sempre se justificam. Do seu excesso de estultice. A pseudopenitência deixa a ideia de que sua única noção de honra é a reverência aos patrocinadore$.

Nem os colegas de Lothte, que dividem com ele as piscinas, quiseram compartilhar a mentira. Em depoimentos, tomaram distância dele. Mas não se deve julgar Lothte. Trata-se de um estúpido. E nenhum julgamento resultará em pena maior.

Do Blog do Josias de Souza, 19/08/2016, 14:01 hs

MARISA MONTE & PAULINHO DA VIOLA - Carinhoso


SIMPLES

O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a.

Karl Marx
O homem explora o homem e por vezes é o contrário.

Woody Allen

GRANDES ESCRITOS


Não poucos, talvez a maioria dos homens, têm a necessidade de rebaixar e diminuir na sua imaginação todos os homens que conhecem, para manter sua auto-estima e uma certa competência no agir. E, como as naturezas mesquinhas são em número superior, e é muito importante elas terem essa competência.
(...)
Nietzsche

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Para o livro de Literatura de segundo grau

Não leias odes, meu filho, lê os horários
(dos trens, dos ônibus, dos aviões):
são mais exatos. Abre os mapas náuticos
antes que seja tarde demais. Sê vigilante, não cantes.
Chegará o dia em que eles, de novo, pregarão listas
no portão e desenharão marcas no peito daqueles que dizem
não. Aprende a ir incógnito, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de passaporte, de rosto.
Entende da pequena traição,
da salvação suja de todos os dias. Úteis
são as encíclicas para se fazer fogo,
e os manifestos: para a manteiga e sal
dos indefesos. É preciso raiva e paciência
para se soprar nos pulmões do poder
o fino pó mortal, moído
por aqueles, que aprenderam muito,
que são exatos, por ti.


Hans Magnus Enzensberger
Tradução de Kurt Scharf e Armindo Trevisan

NIKITA MANOKHIN


SÓ EXISTE O DESEJO E O SOCIAL

Uma psiquiatria materialista trabalha, sobretudo, os afetos do paciente. E do psiquiatra .É por eles e com eles (os afetos) que tudo se move. Tal psiquiatria "maldita" busca poduzi-los como formas subjetivas estranhas às padronizações sociais instituídas, como, por exemplo, as do diagnóstico "cidológico", a bíblia do psiquiatra servo do sistema. Tarefa inglória, até porque muitas vezes o próprio paciente quer um diagnóstico. Daí surgir a pergunta não incomum "o que eu tenho, doutor?" Então, se por um lado Afetos de toda ordem dão consistência à clínica psicopatológica, a Produção como fluxo incessante de vida (signos, semióticas, matérias), faz da prática técnica a referência maior para o Encontro com o paciente. Isto não se dá entre pessoas, não com uma pessoa (o paciente) mas com o mundo psicossocial expresso em processos singulares: o avesso da ordem, o im-paciente.

A.M.

ADVINHEM


LIVRE

Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.


Cruz e Souza
OURO FRANCÊS

Esta Olimpíada provou que os franceses, definitivamente, adoram dar uma achincalhada no nosso país.
Mania atávica de colonizadores isso de meter o pau nas colônias.
Ainda mais na colônia dos outros.
Coisa de gente insegura.
O primeiro recado malcriado francês veio em 1955, quando o antropólogo Claude Lévi-Strauss, no livro Tristes Trópicos, afirma:
“O Pão de Açúcar, o Corcovado, todos esses pontos tão louvados parecem ao viajante que penetra na baía como tocos de dentes perdidos nos quatro cantos de uma boca banguela.”
Infeliz.
Banguela deve estar essa sua boca, Claudinho, se revirando no caixão depois de perderem no salto com vara, no volei e no boxe.
Ora por favor.
A segunda calhordice foi proferida por Charles de Gaulle quando afirmou que “o Brasil não é um país sério”.
Mentira.
O Brasil não é mesmo um país sério, só que não foi de Gaulle quem fez a afirmação, mas sim o próprio embaixador brasileiro na França, Carlos Alvez de Souza em 1962.
Acabou que de Gaulle levou a culpa e, como não somos sérios, a culpa fica para ele mesmo.
Agora mais essa.
Circulou ontem, não só pelas redes sociais mas também pela TV e jornais a notícia de que o técnico Philippe d’Encausse – do saltitante com vara Renaud Lavillenie, o mais novo inimigo número um do país – teria dito que o “Brasil é um país bizarro” e que o salto de ouro do brasileiro Thiago Braz teria sido ajudado por “forças místicas, talvez as do Candomblé”.
Foi o suficiente para despertar a fúria dos meus compatriotas.
Acusar a gente de usar o candomblé para o salto com vara?
Bem o salto com vara?
Me diga qual Mãe de Santo perderia seu tempo com o salto com vara sabendo que estamos bambeando no futebol?
Não vamos disputar o ouro no futebol feminino, amigo.
Você acha que desperdiçaríamos candomblé no salto com vara?
Ora por favor.
Hoje a farsa foi revelada.
Como de Gaulle, d’Encausse também foi vítima de uma acusação falsa.
O moço, coitado, nem sabe o que é candomblé.
Foi o repórter do jornal Le Monde, Anthony Hernandez quem inventou essa paspalhice.
Segundo Hernandez, a referência ao candomblé foi apenas uma “extrapolação pessoal”, um eufemismo para invenção imbecil.
A afirmação de que somos um país bizarro ninguém deu bola, afinal bizarro o Brasil é mesmo.
Somos bizarros e não somos sérios.
Mas com dois ouros franceses no peito.
Merci.

Mentor Neto. Isto É, 17/08/2016,15:11 hs

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

DEVIR-LUA


Os bens do poeta: um fazedor de inutensílios, um travador de amanhecer, uma teologia do traste, uma folha de assobiar, um alicate cremoso, uma escória de brilhantes, um parafuso de veludo e um lado primaveril.

Manoel de Barros

JOÃO BOSCO - Desenho de Giz


DEPOIS DA CARTA

Quem escolhe o momento exato costuma economizar muito tempo. Dilma demorou uma eternidade para redigir sua carta aos senadores e aos brasileiros. Ambicionando a pompa, ela acabou tropeçando nas circunstâncias. Horas depois da divulgação, a carta inútil foi substituída nas manchetes por uma notícia mais relevante: o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, mandou abrir um inquérito contra Dilma, Lula e Cia..

A carta de Dilma é o resultado de uma introspecção de semanas —foram vários mergulhos que madame fez em si mesma à procura de suas verdades interiores. Tomada pelo texto, Dilma concluiu que é a melhor pessoa que ela conhece, apesar das críticas que absorveu com “humildade”. Deve ser duro para uma pessoa assim carregar a tiracolo um inquérito em que será investigada por tentativa de obstruir a Lava Jato. O pior é que o pesadelo está apenas começando.
(...)

Do Blog do Josias de Souza, 17/08/2016,02:05 hs