Não demonizar a psiquiatria. Não desenvolver com ela uma relação persecutória. Pensar: não estamos contra a psiquiatria: a psiquiatria é que está contra nós, os tortos, os malditos, os sem consciência, os sem diagnóstico, os diferentes. Verificar: ela é que está a favor de si mesma, um sistema político-institucional fechado, conservador e autoritário. Não fazer uma crítica acadêmica, bem comportada, piedosa, reativa, ressentida. Não se dobrar ao poder psiquiátrico, não reverenciá-lo, nem tampouco reproduzi-lo. Não personalizar a devastação crítica, não focá-la na pessoa do psiquiatra. Pessoas são boas pessoas. Não considerar intenções, intencionalidades, altruismos, assistencialismos, religiosidades científicas. Elas podem ser boas, mas seus efeitos abomináveis. Não cair no jogo das identidades profissionais. Evadir-se, portanto, do corporativismo profissional. Orgulho de ser psiquiatra não sendo psiquiatra. Trabalhar com os paradoxos da linguagem, ó Lewis Carrol! Não se nivelar éticamente, políticamente, estéticamente, epistemologicamente, clinicamente, à psiquiatria. Não falar mal dela, não comentar nem mesmo sobre a sua monumental ignorância teórica. Sobretudo, não atacá-la, mesmo que ela esteja atacando a Vida, tamponando seus devires e intoxicando suas veias.
Temos mais o que fazer, na verdade, tudo.
P.S. - Texto revisado e ampliado.
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