segunda-feira, 15 de agosto de 2016

PSIQUIATRIA  DEPRIMIDA

A psicopatologia é uma ferramenta essencial da psiquiatria clínica.Ou, pelo menos, deveria ser. Mais, ainda, a etiologia (causa) dos transtornos também deveria. No entanto, em neurotempos atuais ocorre o inverso. Não se fala e não se faz pesquisa psicopatológica e/ou etiológica.. Só há transtornos mentais de origem orgânica, mesmo não sendo, e suas descrições encaixotadas e encaixotantes. A psicopatologia foi esquecida e tornou-se a neuromania dos crâneos. Basta olhar em torno: o vazio epistemológico deixado só é preenchido pela vontade de controlar da psiquiatria cido-biológica. Tal vontade opera no cadastramento tecno-burocrático dos desvios de conduta, do mau comportamento social, do irracionalismo do eu-individual, da inadequação do sujeito aos valores e normas capitalísticos, o que se traduz como diagnóstico-verdade, palavra-de-ordem. Sob o gravidade do poder médico, quem duvidará? Em tal contexto, a loucura se alastra por toda parte, não como experiência de abertura a novas semióticas, a novas terras aqui-mesmo, ao novo, mas como esvaziamento do sentido da existência, fim de mundo, apocalipse, noite eterna, buraco negro... Confira a alta cotação das religiões no mercado espiritual do medo. A ideação suicida, as tentativas, o próprio suicídio, ou a auto-flagelação de jovens é apenas um dos sintomas da angústia inominável do tecido social em decomposição. Uma psiquiatria sem pesquisa psicopatológica e epistemológica, é, além de se constituir como uma psiquiatria ela mesma deprimida, uma especialidade médica que cauciona o sofrimento psíquico e o bioproduz, dele retirando lucro, poder, prestígio, reverência e status social.

A.M.


P.S. - Texto revisto e ampliado

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