domingo, 21 de agosto de 2016

FAZER A DIFERENÇA


A psicoterapia é um serviço típico dos meios urbanos do capitalismo industrial avançado. Está inscrita no circuito da produção ad aeternum de mercadorias e atrelado ao consumo automatizado. Antes de tudo, carrega o fetiche da mercadoria a ser consumida. Não se trata de invalidá-la como ato de ajuda ou recurso terapêutico.  A questão é outra.  É comum ocorrer a profissionais de tal mister uma espécie de miopia teórica da concepção trágica do fato subjetivo, em prol de um humanismo salvacionista ou de um tecnicismo científico ao modo, por exemplo, das terapias cognitivo-comportamentais. Ajudar aquele que sofre por/para viver, muito digno. Se isso vem colado a uma visão a-histórica da subjetividade, estamos diante de um psico-remédio (?!) para os males da alma, buraco metafísico do qual ninguém escapa. Ora, não há "remédio" para a existência; tal “buraco metafísico” é produzido por relações sociais onde o desejo produz a anti-produção. Tudo é produção. Apesar disso, é possível criar linhas da diferença em terapia, na medida em que se abra a subjetivações outras, sem os códigos sociais aprisionadores do corpo-paciente. Novas semióticas... Agenciar uma psicoterapia “libertadora”? Talvez, um pouco, ou quase nada, ou nada, lembrando que “libertação” é uma palavra cheia de dobras e armadilhas semânticas e políticas.  Outro modo, um estilo: incluir a desordem nas práticas clínicas, usando-a como rearranjo de potências subjetivas até então adormecidas.

A.M.


P.S. - texto revisado e ampliado

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